Sexta-feira, 04 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de setembro de 2024
De repente você se vê diante de algo parecido com o apocalipse. Mesmo que ainda não esteja na menopausa, um monte de amigas passa a te relatar os suplícios da oscilação de hormônios. Se você ceder à tentação de buscar o termo no Google, será presenteada com imagens de mulheres acabadas, desanimadas, se abanando. Nas redes sociais os retratos não são menos assustadores. Difícil achar algum que remeta a uma transição normal da vida, desbravada anualmente por milhões de mulheres em todo o mundo.
“Como podemos estar tão despreparados para uma das mais monumentais transições da vida? Ela afeta familiares, amigos, colegas de trabalho. Pessoas não binárias e trans. Nem todas as mulheres passam pelo parto. Todas as mulheres que vivem o bastante, no entanto, passam pela menopausa. É uma experiência compartilhada por metade da população mundial… e sobre a qual ninguém fala”, resume a jornalista americana Jancee Dunn no livro O que ninguém conta sobre a menopausa: Um guia para entender e abraçar essa fase da vida (Ed. Fontanar).
Especialistas ouvidos pela autora destacam que, diferentemente da puberdade, fala-se tão pouco da menopausa como transição na vida que muitas mulheres são pegas “desprevenidas”. Não foram informadas que muitas das mudanças pelas quais vêm passando são consideradas eventos normais e naturais.
E por que isso acontece? “Temos cerimônia de ingresso na vida adulta para meninas que estão se tornando mulheres e rituais de celebração, como casamentos e chás de bebês, em que informações vitais são trocadas com o objetivo de preparar a pessoa para a entrada no próximo estágio da vida. Mas ninguém faz chá de menopausa, com presentes como cremes para o pescoço, ventiladores portáteis, lubrificantes vaginais. Quando o assunto é menopausa, ninguém te diz que precisa conversar”, lembra Jancee.
O resultado é que mulheres na perimenopausa (a fase que antecede a menopausa propriamente dita) já podem sofrer com uma série de sintomas sem saber que são próprios da fase e passar anos tentando receber o diagnóstico e o tratamento certos. Isso quando não aparece alguém dizendo que é coisa da cabeça delas.
Sete a 14 anos
O livro destaca que, de acordo com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, a perimenopausa em geral dura cerca de sete anos, mas pode se arrastar por até 14. Fatores como etnia a estilo de vida determinarão esse tempo, assim como os hábitos – fumar, por exemplo, pode acelerar a menopausa segundo pesquisas – e a genética – é comum chegar à menopausa mais ou menos na mesma idade que a mãe.
Os sintomas mais comuns listados por Jancee são ondas de calor, suor noturno e menstruação irregular, porém também estão incluídos oscilações de humor, diminuição da libido, seios doloridos, dores de cabeça, secura vaginal, ardência bucal, formigamento nas mãos e nos pés, problemas de gengiva, fadiga extrema, inchaço, problemas digestivos, dores nas articulações, depressão, dores musculares, coceiras na pele, choques elétricos, sono ruim, confusão mental, lapsos de memória, queda de cabelo, unhas quebradiças, ganho de peso, incontinência urinária, tontura ou vertigem, aumento das alergias, perda de densidade óssea, palpitações, odor corporal estranho, irritabilidade, ansiedade e síndrome do pânico.
Para completar, é comum a perimenopausa ocorrer quando as mulheres estão no período de maior responsabilidade da vida. “Elas gerenciam lares, às vezes criam filhos pequenos e com frequência cuidam dos pais idosos. As que trabalham fora têm grande chance de estar engrenando na carreira”, lembra a autora.
Mesmo após o isolamento do estrogênio, mostra o livro, as pesquisas sobre a saúde da mulher continuaram escassas. “No início dos anos 1960, após pesquisadores descobrirem que as mulheres tinham menores taxas de doenças cardíacas antes da menopausa, quando seu nível de estrogênio caía, foi conduzido o primeiro experimento para verificar se a suplementação de estrogênio seria um tratamento preventivo eficiente. O estudo, publicado em 1973, foi conduzido com 8.341 homens. E nenhuma mulher.”
Só em 1993 surgiu a obrigatoriedade de mulheres e minorias serem incluídas em estudos clínicos. De lá pra cá, entre altos e baixos, avançaram não só as pesquisas como o uso da terapia hormonal com o objetivo de aliviar sintomas de transição para a menopausa. Com a internet, a oferta de conteúdos sobre o assunto também aumentou muito, mas ainda há um longo caminho para chegar a todas as mulheres e a quem convive com elas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.