Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de julho de 2020
Embora as viagens corporativas tenham parado em um piscar de olhos quando a pandemia chegou, pode ser que o setor leve de dois a três anos para se recuperar totalmente – período mais longo do que os especialistas previram a princípio. “E mesmo esse prognóstico depende da economia como um todo, do setor da empresa em questão e da demanda por seus produtos e/ou serviços, além da situação da saúde pública”, admite Henry Harteveldt, presidente do Grupo de Pesquisa Atmosphere.
E dois ou três anos pode ser excesso de otimismo – pelo menos para a volta por cima definitiva das principais aéreas.
O analista Michael Derchin descreve o efeito da pandemia nessas companhias como “o resultado agravado do 11 de setembro mais a Crise de 1929”. Para ele, a recuperação deve levar sete anos, se não mais.
E explica que isso se dá porque, embora o viajante a negócios represente cerca de 10% do volume total de passageiros das maiores empresas mundiais – incluindo American Airlines, Delta, United, Lufthansa e Singapore –, ele gera metade da receita. Para Harteveldt, a proporção fica entre 55% e 75% dos lucros. Afinal, ele não só compra as passagens mais caras e rentáveis como tem mais chances de possuir o cartão de crédito da companhia e comprar adesão de lounge de aeroportos e outros serviços.
Em relação aos hotéis, ele gera aproximadamente 70% dos ganhos globais do Marriott e do Hilton, segundo Robin Farley, analista da UBS. Ela prevê que a métrica comum usada para avaliar a saúde financeira desses estabelecimentos – receita vezes quartos disponíveis – só voltará aos índices de 2019 em 2023 ou 2024.
“Só vejo essa proporção se recuperando em 2023, no mínimo”, afirma Michael Bellisario, analista de acomodações para a firma de serviços financeiros Baird. “E não é só isso; a meu ver, os mercados urbanos norte-americanos, que contém hotéis maiores e mais rentáveis, vão demorar ainda mais que os pequenos.”
O grupo Marriott já está vendo um retorno, ainda que lento, das reservas nos Estados Unidos, embora muitas sejam para o viajante de lazer em destinos de férias. E informa que 70% de seus clientes corporativos estão prestes a afrouxar ou suspender as restrições de viagem dos funcionários nos próximos três meses.
O setor de aluguel de carro talvez seja o mais promissor entre os prestadores de serviços de viagem: Donald Moore, vice-presidente de vendas de aluguel corporativo e contas corporativas internacionais da Enterprise Holdings, empresa principal das marcas Enterprise, National e Alamo, informa que a duração do período de locação vem aumentando:
“Já tem viajante que fica com o carro até sete dias; antes da pandemia eram menos de três. Mas isso porque agora estão fazendo na estrada os percursos que percorriam no ar, tipo St. Louis a Chicago.”
As pesquisas recentes também levantam dúvidas sobre o tempo de recuperação das viagens corporativas e uma possível substituição destas por plataformas de reunião virtual. Na enquete realizada pela revista “Institutional Investor” no mês passado, mais da metade dos CIOs, gerentes de portfólio e outros decisores de investimentos disse não esperar voltar a viajar antes de novembro ou dezembro, no mínimo. E 93% das mais de 300 multinacionais ouvidas em maio pelo Instituto BCG Henderson, a organização de pesquisa do Boston Consulting Group, esperam mudanças permanentes nas políticas de trabalho e reuniões remotas, enquanto 66% anteciparam diretrizes que alterem permanentemente a atividade.
Erin Eckert, diretora do portfólio de doenças infecciosas da ONG RTI International, em Washington, é o típico exemplo da pessoa que normalmente viajaria a trabalho, mas está parada: antes da pandemia, ela passava 25% de seu tempo viajando em nome da pesquisa para malária pelos países africanos; agora, está “de castigo” em casa, por tempo indeterminado.
Entre os desafios de retomada da viagem corporativa estão as diretrizes estipuladas pelos aeroportos e pelas companhias aéreas. Outro possível fator inibidor do trânsito corporativo é a perspectiva de uma ação judicial se o viajante ficar doente. As informações são do jornal The New York Times.
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