Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de maio de 2018
Diante de um cenário de corrupção de políticos, crise econômica e descrédito da população em relação aos seus representantes, um grupo de servidores do Estado se insurge para tentar restabelecer os valores republicanos no Brasil.
Foi o que aconteceu nos anos 1920, 1930, quando um movimento de tenentes do Exército tentou tomar o poder e impor uma agenda de moralidade administrativa. E é, de acordo com o cientista político Christian Lynch, o que tem acontecido nos anos 2000 e 2010, com um movimento de juízes de diferentes instâncias que passou a usar a interpretação das leis para colocar quadros da política nacional atrás das grades e rever benesses destinadas às elites nacionais – como o foro privilegiado derrubado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O primeiro movimento ficou historicamente conhecido como tenentismo e marcou a história brasileira com episódios como a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana ou a Coluna Prestes. O segundo, Lynch batizou de ‘tenentismo togado” ou “judiciarismo”. Em comum, ambos têm a motivação política, a classe social de origem e os objetivos moralizantes. No primeiro caso, no entanto, o grupo tentou alterar o status quo por meio das armas – e fracassou.
“Substitua ‘espada’ e ‘metralha’ dos tenentes por delações premiadas e sentenças condenatórias e teremos o tenentismo togado do Brasil”, diz ele, em referência às ações da Operação Lava-Jato e às contendas recentes no STF.
1) Com esse crescimento do judiciarismo, não soa um pouco estranho que ele ainda não tenha tido um candidato à presidência para chamar de seu? Essa pessoa seria o Joaquim Barbosa?
Ter um presidente é estratégico, porque é ele quem indica os juízes do Supremo Tribunal e o procurador-geral da República. Mas, para os judiciaristas, mais importante do que ter um candidato a presidente, é assegurar uma maioria dentro do STF. O Supremo tornou-se hoje o órgão mais poderoso da República, só encontrando equivalente no Conselho de Estado do Império. Seus membros têm mais poder do que qualquer deputado ou senador.
Então, o judiciarismo não precisa necessariamente ter candidato. Mas ele virá. O ex-ministro Joaquim Barbosa seria o candidato natural do judiciarismo e das forças que o sustentam. E ele viria com todas as chances de ser o candidato de perfil bonapartista, com um espírito da liquidação das oligarquias.
Acho pouco provável a vitória de candidatos das máquinas partidárias que estejam encrencados com a Justiça ou com a imagem muito colada ao establishment político, como o Alckmin também. O que a maior parte do eleitorado – ou, pelo menos, a parte mais influente deles – buscará provavelmente é um candidato comprometido com o restabelecimento da autoridade no País, mas também com a garantia das conquistas obtidas nos últimos anos com a redução das desigualdades sociais, e também do combate à corrupção. Não sei se o Joaquim Barbosa aguenta uma eleição, em termos de personalidade, mas a estampa e a história dele o legitimam desse ponto de vista.