Segunda-feira, 08 de setembro de 2025

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Ali Klemt O verdadeiro réu

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Eu tenho o sonho de que todo o estudante brasileiro, já no ensino fundamental, aprenda sobre a Constituição Brasileira. (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Há muito tempo, eu tenho um sonho… um, não, eu tenho vários, graças a Deus! Porém, vou me ater a apenas um deles para desenvolver essa ideia que não me sai da cabeça, desde os meus idos tempos de advogada: eu tenho o sonho de que todo o estudante brasileiro, já no ensino fundamental, aprenda sobre a Constituição brasileira e sobre os princípios jurídicos básicos que norteiam a nossa vida. Eu gostaria de ensinar crianças de 7 anos sobre a separação e o equilíbrio dos poderes; sobre a importância do voto; sobre as liberdades e garantias individuais. Eu queria que elas soubessem, desde a mais tenra idade, que têm direito de opinar, de crer e de exercer a atividade que bem entenderem. E, muito importante, eu amaria esclarecer que o limite da liberdade é a liberdade do outro. Não seria absolutamente incrível observar as crianças compreendendo a estrutura ética e moral na qual se baseia todo o nosso sistema legal?

Seria lindo. Mas, do jeito que as coisas vão, jamais serão. E não é por acaso. Afinal, quando nos defrontamos com a realidade atual, fica fácil entender o porquê: pessoas esclarecidas compreendem, questionam, criticam, protestam. É preciso conhecimento para argumentar. É preciso repertório para construir juízo crítico. E é disso que o Brasil se ressente: a grande maioria da nossa população vive alheia aos seus direitos, que dirá conhecer as minúcias da lei. Pudera! É preciso, antes sobreviver. Enquanto isso, que se oferte bolsa-família e botijão de gás!

E, assim, o sonho esbarra na realidade. E a realidade é que, sem esse conhecimento básico, ficamos reféns de narrativas. Reféns de quem interpreta a lei não conforme o que ela diz, mas conforme o que lhe convém. Quando a sociedade desconhece seus próprios direitos, abre espaço para que eles sejam corroídos, um a um, diante de seus olhos. E é exatamente isso que estamos vivendo agora.

O que é justiça? Essa deveria ser a pergunta central de qualquer sociedade que se pretenda democrática. Justiça não é vingança, não é espetáculo, não é palco para narrativas políticas. Justiça é equilíbrio, é a aplicação das regras previamente estabelecidas, é a proteção dos direitos fundamentais – mesmo quando se trata daqueles de quem discordamos.

O que vimos se desenrolar, ao longo da semana, foi assustador: um julgamento baseado em uma única delação, a qual foi alterada diversas vezes. Um processo com uma infinidade de terabytes (é assim que se escreve, gente?), cuja análise foi abreviada, impossibilitando defesas consistentes. A falta de uma prova concreta que vinculasse os réus aos atos considerados antidemocráticos – o crime mais grave do Brasil, pelo visto, ganhando disparado do tráfico de drogas e de filhos que enterram a mãe no concreto e depois esquartejam a namorada. Sim, acredite se quiser: a corte suprema parou o país para encaminhar a condenação dos tais opositores do Estado de Direito, aqueles que esboçaram uma trama terrível em um papel – papel do qual, aliás, a tal trama nunca saiu.

Ainda fica pior. Sim, fica. Porque esse processo decorre de um inquérito aberto pelo próprio juiz, em uma confusão de papeis que, por si só, já é absolutamente imoral. Mas, pasme, essa mesma figura também é vítima, o que torna tudo um grande enredo rocambolesco que atropela sem dó o princípio da imparcialidade do julgador.

MAS QUEM SE IMPORTA? Ninguém. Ou melhor, eu me importo. Eu, você e mais uns poucos gatos pingados por aí, que não se cansam de postar, de gritar, de tentar convencer.

A luta é árdua, contudo. Afinal, a maioria dos brasileiros não conhece a sua Constituição. Não sabe o que é cláusula pétrea, não entende o que significa devido processo legal, não se dá conta de que, ao relativizar esses princípios em nome de uma suposta “ordem”, abre-se um precedente perigoso para todos nós. É fácil manipular um povo que desconhece as regras do próprio jogo.

Hoje são eles, os acusados do 8 de Janeiro. Amanhã, pode ser qualquer um de nós. Quando a justiça deixa de ser cega e passa a ser seletiva, ninguém está protegido. Basta estar do lado “errado”. Assim, a história nos mostra como as maiores injustiças nasceram: pela indiferença diante da manipulação.

O julgamento do século não é apenas o julgamento de alguns. É o julgamento da própria democracia brasileira. E, se a democracia está no banco dos réus, não podemos nos dar ao luxo do silêncio. Não basta que os livros digam que temos direitos: é preciso que o povo os conheça, que os defenda, que os exija. Do contrário, seremos apenas espectadores de um teatro perverso, onde já não se distingue o juiz do acusador, nem a verdade da encenação.

Seremos, não: já o somos.

E, enquanto isso, eu tenho um sonho. Mas o meu sonho não cabe em delações premiadas, nem em sentenças escritas de antemão. O meu sonho é ver o Brasil acordar para si mesmo, antes que seja tarde demais.

Será que ainda dá tempo?

Ali Klemt

@ali.klemt

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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