Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de janeiro de 2021
Imagine que você está fazendo um passeio em meio à Zona da Mata Sul de Pernambuco e dá de cara com uma vagina de 33 metros de altura, 16 metros de largura e 6 metros de profundidade. Sim, isso existe e foi feito por uma artista visual que quis questionar a relação entre a natureza e a cultura na sociedade ocidental à que ela se refere como falocêntrica e antropocêntrica.
O nome da obra é Diva, de acordo com Juliana Notari, artista por trás do processo criativo. A ideia surgiu quando ela fazia uma residência artística na Usina de Arte, e levou 11 meses para ficar pronta. Cerca de 20 engenheiros trabalharam durante esse tempo para construir a obra, que foi totalmente moldada à mão.
“Diva, no final das contas, é uma grande escultura feita à mão. Como demonstrou Roberto, o engenheiro arretado responsável pela obra, não era possível usar uma escavadeira porque ela não permitiria esculpir com precisão os relevos que precisava”, contou Notari em uma postagem em seu Facebook, que viralizou.
Na postagem, ela ainda explicou porque decidiu fazer a obra de arte e o que ela de fato representa. “Em Diva, utilizo a arte para dialogar com questões que remetem a problematização de gênero a partir de uma perspectiva feminina aliada a uma cosmovisão que questiona a relação entre natureza e cultura na nossa sociedade ocidental falocêntrica e antropocêntrica”, afirma.
“Atualmente essas questões têm se tornado cada vez mais urgentes. Afinal, será através da mudança de perspectiva da nossa relação entre humanos e entre humano e não-humano, que permitirá que vivamos mais tempo nesse planeta e numa sociedade menos desigual e catastrófica”, completa.
O post viralizou e já foi curtido, ao menos, 18 mil vezes no Facebook. A discussão também foi para o Twitter, que foi onde os internautas mais comentaram sobre a obra. Os comentários acerca do trabalho não se restringem às críticas. Na manhã do sábado (2), a maior parte dos recados deixados sob a postagem eram elogiosos. “Nossaaaa que criação esplêndida…. Diva é divina e uma das obras mais belas e significativas que vi nascer”, escreveu uma seguidora. “Não vejo a hora de viver de pertinho essa imensidão de obra”, comentou um admirador.
Censura nas artes
Em 2016, a Freemuse, organização internacional que combate a censura na arte, registrou 1028 casos de artistas que tiveram a violação de seus direitos em 78 países. Esse foi um aumento de quase 200% em relação a 2015. O país no topo da violação de direitos de artistas é o Irã, que registrou 19 prisões de artistas, a maioria acusada de ofender o islamismo. Ameaças de morte, atentados, processos na Justiça e até assassinato contra artistas também aconteceram na Turquia, Egito, Nigéria, China e Rússia. A censura cultural é muito presente em países com governos totalitários e sem tradição de democracia.
Nesse contexto, ela ocorre especialmente em função de temas políticos e de direitos humanos retratos na arte. Em países mais democráticos, a questão da moral ganha maior peso em temas sensíveis como religião, sexualidade e raça. Existe ainda a autocensura, quando artistas passam a evitar um determinado assunto devido a possiblidades de agressões, críticas, processos ou repercussão negativa.