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Edson Bündchen Oppenheimer e a Rosa de Hiroshima

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Deserto de Los Alamos, Novo México-EUA, 5h e 29min. Havia uma tensão angustiante no ar. Espalhados por um raio de até 64 km do local da explosão, físicos, engenheiros, militares, jornalistas e curiosos, cada um à sua maneira, testemunharam uma das mais terríveis e definitivas mudanças do mundo moderno. O som da onda de choque levou 40 segundos para chegar aos observadores e foi sentida a mais de 160 km, tendo o cogumelo atômico atingido 12 km de altura. O clarão da bomba de plutônio Trinity iluminou sinistramente as montanhas do deserto “Jornada del Muerto”, naquele histórico 16/07/1945, numa antevisão chocante daquilo que Robert Oppenheimer, Diretor do ultrassecreto Projeto Manhattan, e “pai” da bomba atômica, referiu mais tarde através da frase do texto sagrado hindu Bagavad Gita: “Tornei-me a Morte, Destruidora de mundos”. Ato contínuo ao sucesso do primeiro teste atômico nos confins do Novo México, houve a construção das bombas Little Boy (de urânio) e Fat Man (de plutônio), ambas jogadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando, de imediato, 120 mil pessoas e eliminando toda a vida vegetal e animal em um raio de 1,5 km. O Japão era, então, o único país ainda beligerante, já que a Alemanha havia capitulado em 08 de maio de 1945, naquela que foi a guerra mais mortal da história.

Quase 80 anos depois do primeiro teste atômico da história e de todos os desdobramentos geopolíticos, sociais e econômicos que sobrevieram, aqueles acontecimentos estão novamente sendo alvo de atenção pública, agora embalados pela sétima arte. Sob a direção de Christopher Nolan, Hollywood entrega um drama cinematográfico que arranca com enorme sucesso de bilheteria, baseado no livro biográfico “Prometeu Americano”, recontando aqueles febris e extraordinários momentos. É inegável o poder sedutor que as tragédias despertam no público em geral, como inegável também é a oportunidade de haver uma reflexão acerca do que levou o homem a desenvolver uma armadilha mortal da qual não consegue mais se desvencilhar. Daquela fria manhã em Los Alamos até aqui, as transformações foram gigantescas, mas as palavras premonitórias de Oppenheimer sobre a necessidade de acordos internacionais que impedissem que outros países também desenvolvessem bombas atômicas soam hoje como um apelo comovido de alguém que teve a consciência aterradora de fazer parte de uma viagem sem volta, cujo preço em vidas humanas era ainda impossível calcular, enquanto a história estava sendo construída. O mundo não apenas não soube impedir a proliferação de artefatos nucleares, como está hoje refém de ameaças tão ou mais apavorantes, a exemplo da crise climática e dos rumos da Inteligência Artificial. Definitivamente, o atual arcabouço institucional representado pela ONU parece cada vez mais frágil diante de um mundo que se inclina à multipolarização, à fragmentação de interesses e uma cada vez mais perigosa desconexão entre o progresso da ciência e o comportamento humano.

A arte talvez possa ser um caminho para essa tomada de consciência que precisa se impor. Até agora, a razão não foi suficiente. As cores observadas, no primeiro teste atômico que germinou a Guerra Fria, sacudiu o planeta e fez Oppenheimer chorar, variaram de púrpura a verde e, por fim, a branco. São cores hoje presentes na luta por maior igualdade, são tons que escondem e expõem também a beleza e o horror, duas faces de uma mesma identidade humana, contraditória e exuberante, sublime e repugnante, violenta e compassiva… É tempo de muita coisa. É tempo de ir ao cinema, como é tempo também de lembrar do poema de Vinícius de Moraes: “Pensem nas crianças mudas, telepáticas… Pensem nas meninas cegas, inexatas… Pensem nas mulheres, rotas alteradas… Pensem nas feridas como rosas cálidas. Mas, oh, não se esqueçam da rosa, da rosa, da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida, a rosa com cirrose, a anti-rosa atômica, sem cor, sem perfume, sem nada.”

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https://www.osul.com.br/oppenheimer-e-a-rosa-de-hiroshima/ Oppenheimer e a Rosa de Hiroshima 2023-08-03
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