Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 15 de julho de 2025
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou na segunda-feira (14) uma recomendação para o uso do lenacapavir duas vezes ao ano para prevenção do HIV. O medicamento injetável seria uma opção adicional de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), uma alternativa eficaz e de longa duração às pílulas orais.
Em 2024, um estudo publicado na revista científica “New England Journal of Medicine (NEJM)” mostrou que o antirretroviral apresentou uma eficácia geral de 100% na prevenção do HIV em mulheres.
Em um estudo posterior feito ainda em 2024 com 3.265 pessoas de diferentes gêneros, apenas dois voluntários que fizeram uso do remédio contraíram a doença.
“Embora ainda não tenhamos uma vacina contra o HIV, o lenacapavir é a melhor alternativa: um antirretroviral de longa ação que, em estudos clínicos, preveniu quase todas as infecções entre pessoas em risco”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
As novas diretrizes surgem em um momento crítico, segundo a OMS, com a estagnação nos esforços de prevenção ao HIV no mundo. Ao todo, 1,3 milhão de novas infecções foram registradas no ano passado.
Além do medicamento injetável, o órgão também passou a recomendar sejam utilizados testes rápidos para diagnóstico do HIV, eliminando procedimentos complexos e caros.
Em dados apresentados na 25ª conferência internacional sobre a Aids, que aconteceu em Munique, na Alemanha, em 2024, e publicados no NEJM, Gilead Sciences mostrou que o antirretroviral lenacapavir tem uma eficácia geral de 100% na prevenção da infecção pelo HIV-1 – responsável por quase todas as infecções de HIV no mundo.
Segundo a publicação, que trouxe dados desse acompanhamento de mais de 2 mil mulheres cisgênero na Uganda e na África do Sul, o medicamento injetável aplicado somente duas vezes por ano se provou tão eficaz que o estudo clínico chegou a ser interrompido precocemente, já que os números superaram os critérios de interrupção pré-definidos.
Por causa disso, o Unaids, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, também emitiu um comunicado recente afirmando que o medicamento oferece uma esperança de acelerar os esforços para acabar com a Aids como ameaça à saúde pública até 2030 – meta que faz parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
No entanto, para que isso aconteça, a agência da ONU diz que a Gilead precisará assegurar que todas as pessoas que necessitam desse medicamento (que custa cerca de US$ 40 mil por pessoa, por ano) tenham seu acesso garantido.
“Garantir o acesso global equitativo a novas tecnologias pode ajudar o mundo a se colocar no caminho para acabar com a Aids como uma ameaça à saúde pública até 2030”, afirmou Winnie Byanyima, Diretora Executiva do Unaids.
Em junho, a FDA, a Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, aprovou o medicamento para prevenção ao HIV-1. No Brasil, o lenacapavir ainda não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A Gilead do Brasil informou, ainda em 2024, que a submissão no país da droga, assim como em outros mercados, está “em fase de planejamento interno e, dessa forma, não é possível fornecer uma data estimada”.
Chamado comercialmente de Sunlenca, o lenacapavir é visto como uma alternativa em comparação com os atuais medicamentos preventivos orais de uso padrão para a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP).
Disponível no SUS desde 2018, esses remédios são tomados (PrEP diária e sob demanda) antes da relação sexual, o que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
No Brasil, porém, mulheres cis não podem usar a PrEP sob demanda. Estudos antigos – e bastante debatidos – mostraram que o medicamento é menos eficaz nas mucosas vaginais do que nas anais, e que o estrogênio (um hormônio sexual mais presente em mulheres) pode diminuir ainda mais essa eficácia.