Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de junho de 2021
No Long Bets, website onde especialistas testam sua determinação fazendo apostas reais em prognósticos (ou pelo menos recursos doados para instituições beneficentes) há uma aposta em aberto entre o astrofísico britânico Martin Rees, um conhecido combatente sobre um possível apocalipse, e Steven Pinker da universidade de Harvard, famoso por seu excessivo otimismo. Para Rees vencer, a previsão a seguir tem de ser comprovada: “um terror biológico, ou um erro biológico, levará a um milhão de vítimas num único evento dentro de um período de seis meses, começando não depois de 31 de dezembro de 2020”.
A aposta foi feita para o período de 2017 a 2020; você observará que este lapso de tempo expirou. Mas continua pendente, e vai depender de uma solução da questão que a mídia ocidental decidiu finalmente levar a sério: o vírus causador da covid-19 de algum modo escapou acidentalmente do Instituto de Virologia de Wuhan e não saltou de morcegos ou pangolins para o Paciente Zero humano?
Se você vem se perguntando até que ponto a hipótese de um vazamento do vírus de um laboratório realmente é importante e o que na verdade está em jogo, eis uma resposta: os US$ 400 que Rees apostou contra Pinker no tocante às capacidades autodestrutivas da raça humana.
Há outras, também, antes de retornarmos ao que a aposta representa. Na semana passada, o governo de Joe Biden, nos Estados Unidos, ordenou que fossem intensificadas as investigações sobre as origens da covid-19, e o mais duro comentário sobre a teoria do vazamento assumiu a forma de críticas na mídia de liberais contrários como Matthew Yglesias e Jonathan Chait.
Eles tentaram explicar como uma teoria que sempre foi circunstancialmente plausível – uma vez que a pandemia teve início a mais de 1.600 quilômetros do habitat dos morcegos onde vírus similares foram descobertos, mas a poucos passos de um importante laboratório que realiza estudos sobre coronavírus – foi tratada por tão longo tempo como pura teoria de conspiração pelos serviços de mídia tradicionais e provedores de alertas de conteúdo no Facebook.
O argumento que oferecem é que esse era um caso digno de estudo pelos pensadores da mídia, especialmente a maneira que instituições aparentemente neutras encobrem cada vez mais assuntos controversos, como afirma Chait, “baseadas inteiramente em como acham que os atores políticos usarão a resposta”.
Neste caso, como a teoria do vazamento de um laboratório inicialmente foi associada a membros do Congresso contrários à China, diante da proeminência de publicações conservadoras (Jim Graghty da National Review tem sido uma voz essencial e imparcial sobre o assunto) e eventualmente aproveitada pelo governo Trump, houve uma pressão entre os jornalistas, que cobriam a história e especialistas no Twitter que opinaram a respeito – no sentido de colocar a possibilidade num box do QAnon e deixá-la ali.
Deixo para o leitor analisar como uma pressão similar se manifesta em outras áreas, desde a disparada de assassinatos em 2020-21 ao recente aumento da violência antissemita, casos em que os jornalistas desejariam evitar fazer concessões às interpretações conservadoras da realidade.
Mas permita-me oferecer um aditamento à crítica da mídia. Uma mudança chave do jornalismo tradicional na era Trump foi o impulso para dizer ao leitor exatamente o que ele deve pensar, por temor de deixar qualquer coisa ambígua no sentido de que foi feita uma concessão à demagogia da direita.
Se nunca entendermos a verdade sobre as origens da covid-19, os perigos do pensamento de grupo da mídia serão a única lição que teremos como absolutamente certos. Mas se conseguirmos encontrar a verdade e descobrirmos que o Instituto de Virologia de Wuhan realmente foi o epicentro de uma pandemia jamais vista num século, a revelação em si será um importante evento científico e político.
Em primeiro lugar, na medida em que os Estados Unidos estão engajados num conflito de propaganda e de poder brando com o regime de Pequim, existe uma grande diferença entre um mundo em que o regime chinês pode dizer, “Não fomos os responsáveis, mas esmagamos o vírus e o Ocidente não conseguiu, porque somos fortes e eles são decadentes, e um mundo que este foi basicamente o seu Chernobyl, salvo que sua incompetência e o acobertamento do fato levou a doença não só para as suas próprias cidades, mas também para o mundo inteiro.