Quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de março de 2020
Uma jovem negra de 21 anos da Baixada Fluminense (RJ) está conquistando milhares de seguidores na internet com dicas como “anote seus gastos” e “guarde suas moedas”. Nathalia Rodrigues de Oliveira, que agora é reconhecida na rua pelo nome de seu canal no YouTube, o Nath Finanças, faz vídeos para falar de forma descomplicada sobre economia.
A moradora de Nova Iguaçu quer dar noções de educação financeira para os que ganham pouco. Para ela, que fez técnico em administração, hoje cursa graduação na área e trabalha em uma empresa do setor, é preciso que os pobres saibam se o PIB (Produto Interno Bruto) está bom ou como o preço do dólar afeta o cotidiano.
A seguir, trechos da entrevista com Nath.
1) Como surgiu o interesse por finanças pessoais?
O meu primeiro trabalho foi na auditoria de um shopping, e usei o meu primeiro salário para comprar um pote de sorvete só para mim e ir ao McDonalds. Foi só na faculdade que eu comecei a ter noção de como funciona o sistema financeiro.
Eu tinha uns 18, 19 anos e tinha começado a trabalhar fazendo cartão de loja. A maioria dos que vinham fazer o cartão era de baixa renda. Pessoas que ganhavam um salário mínimo e tinham cinco cartões de lojas com limites superaltos. E as pessoas que ganhavam um pouco mais não queriam fazer cartão.
Tive consciência financeira naquele momento. Depois comecei a estudar mais e me apaixonei pelo assunto.
2) E por que resolveu criar o canal no YouTube?
Fui pesquisar na internet se havia conteúdo de educação financeira para pessoas como eu, que trabalham, estudam, ganham pouco e estão aprendendo a organizar seu dinheiro.
Na internet vemos pessoas falando só para quem tem um pouco mais de grana. Como investir R$ 1.000 ou R$ 10 mil, mas não tem para quem ganha pouco. Mil reais é o salário de uma pessoa, era mais que meu salário, era o dobro. Aí falei: “Cara, vou criar um canal para falar sobre isso”.
E eu falo numa linguagem acessível. O canal é para falar com pessoas como eu, que querem aprender a se organizar de uma forma simples. Mas não é só gente de baixa renda que me assiste.
3) O que você pensa sobre a atual situação econômica do País?
A situação não está boa para ninguém, sobretudo para o pobre. A moeda desvalorizada prejudica quem come pão, quem usa combustível.
4) O que você acha do discurso dos economistas?
Eles falam para a própria bolha. Eles não falam para os pobres. A intenção é que o pobre continue ignorante e se endividando, sem questionar o sistema.
5) E do discurso da imprensa?
Os discursos são liberais. Favorecem a camada de quem tem mais dinheiro, e não quem é pobre. A intenção sempre foi essa, que o pobre não entenda o economês e que ache que o PIB está bom.
6) Por que o brasileiro está endividado?
A falta de emprego é o principal motivo, e o salário defasado. Não é culpa da pessoa estar endividada. Ela não teve educação financeira na escola, não teve matemática de uma forma voltada para sua realidade. Aprendeu como funciona Bhaskara, mas não entende juros simples e compostos. Salário, desemprego e falta de educação financeira são os motivos.
Só agora querem implantar na escola pública, mas nós não sabemos como vai ser isso. O aluno de escola privada tem há tempos.
7) É possível usar o crédito de forma consciente?
O crédito não é ruim. Quando usado de forma consciente, ajuda a realizar muita coisa, como sonhos que você não consegue pagar à vista porque ganha pouco. Mas quando a pessoa não tem controle financeiro e não entende os juros do cartão, ela vai se endividar.
É o caso da maioria. Nunca aprendemos a usar crédito.
8) Qual deve ser a relação do trabalhador com a Bolsa?
É complicado falar para o trabalhador investir na Bolsa, porque a primeira coisa que ele precisa é de economia doméstica e controle financeiro, para só depois pensar em investir.
É difícil acompanhar a Bolsa quando você trabalha oito horas por dia. Estão falando para as pessoas saírem do Tesouro Direto e irem para a Bolsa. Isso é loucura.
Muita gente não tem noção que Bolsa é uma coisa emocional. Você vai ver que está perdendo e vai querer tirar o dinheiro. E quem se aproveita disso é o cara que está há anos lá. O pobre não está pensando na Bolsa, mas em como sobreviver com o salário dele.
9) Você defende que se abra mão de coisas para guardar dinheiro?
Meu público não tem como abrir mão das coisas. Ele não pode deixar de reservar 30% do salário para o aluguel, por exemplo. Falo só para ele ver o que pode ser economizado dentro da realidade dele.
Eu ensino direitos que as pessoas não sabem que têm. Se você fica sem internet por 30 minutos, tem o direito de pedir desconto na fatura.
Eu falo que banco não quer que pobre tenha educação financeira, quer que pobre pague juros rotativos no cartão.