Esporte Os casos seguidos de racismo envergonham o melhor futebol do mundo
Por Redação O Sul | 19 de dezembro de 2018
Três casos seguidos de racismo, registrados em apenas 12 dias, estão envergonhando o futebol inglês. O país que criou o esporte e onde se disputa aquele que é indiscutivelmente o melhor campeonato nacional do mundo tem registrado um grave aumento no número de ataques racistas.
E, infelizmente, não existem sinais claros de que o problema possa ser contido facilmente. Em dois finais de semana seguidos, jogadores negros do Arsenal e do Manchester City, dois dos melhores times da Premier League, foram alvos de abusos por parte de torcedores adversários.
No dia 2 de dezembro, um torcedor do Tottenham jogou uma casca de banana no atacante Aubameyang, do Arsenal e capitão da seleção do Gabão.
Logo na semana seguinte, quatro torcedores do Chelsea foram presos por gritarem palavras racistas contra o também atacante Sterling, do Manchester United e uma das estrelas da nova geração de craques do país.
Apenas quatro dias depois, os torcedores do mesmo Chelsea viajaram para Budapeste, na Hungria, para um jogo da Liga Europa contra o time local Vidi. Dezenas de fãs ingleses foram filmados cantando refrões antissemitas nas arquibancadas. O time pode (e deve) ser multado por isso.
Os casos seguidos levaram a um intenso debate na Inglaterra sobre a volta e o aumento do racismo no esporte. A vergonha é maior ainda porque a Premier League é uma das mais diversas do planeta, atraindo jogadores literalmente do mundo inteiro. E são justamente esses jogadores de todas as cores e crenças que fazem o campeonato ser disputado em altíssimo nível. Sterling foi claro ao culpar a mídia sensacionalista por parte do problema.
Segundo ele, esse tipo de mídia costuma criticar com frequência os atletas negros –de uma forma muito diferente dos jogadores brancos. Ele lembrou o caso, por exemplo, de duas reportagens similares sobre jovens jogadores comprando casas para suas famílias. Na primeira reportagem, o jogador branco teria sido elogiado por estar cuidando do futuro da mãe.
Na segunda, semanas depois, um jovem atleta negro foi criticado pela mídia local por estar “esbanjando” seu salário na compra de uma casa milionária. Mas o problema atinge também vários outros níveis do esporte.
A entidade Kick it Out (Chute para Fora, numa tradução livre), que luta contra qualquer tipo de discriminação no futebol, informou que registrou nada menos do que 520 casos de racismo, homofobia, sexismo e desrespeito religioso nos campos ingleses na última temporada. Destes, mais da metade eram relacionados ao racismo. Um recorde histórico. Alguns desses casos acabaram em prisão e sanções contra torcedores. Mas isso ainda é pouco.
Seria importante a aplicação de sanções muito fortes contra os times também, especialmente com a perda de pontos e até suspensão de competições –uma forma muito mais eficaz de forçá-los a controlar os seu hooligans. A Kick it Out lembra ainda que existem poucos dirigentes de minorias étnicas no campeonato inglês.
E, por último, também são poucos os técnicos negros ou de outras minorias dirigindo as principais equipes da Inglaterra. Na atual temporada da Premier League, apenas dois técnicos são negros –num total de 20 equipes. Infelizmente, uma rápida pesquisa mostra que o caso dos técnicos no Brasil costuma ser até pior…
As informações são do jornalista Américo Martins, do jornal Folha de S. Paulo.
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