Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de janeiro de 2023
O fim do governo Jair Bolsonaro também marca o encerramento de um período particularmente tumultuado para a diplomacia brasileira, que se distanciou nos últimos anos tanto das potências ocidentais quanto de orientais, além de vizinhos na América do Sul.
Logo no seu primeiro discurso após a vitória no segundo turno, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou o termo “pária do mundo” para descrever a atual situação do país no cenário internacional.
Já representantes do governo Bolsonaro, como o ex-chanceler Ernesto Araújo, disseram ao longo do mandato que trabalhavam pela estratégia de tornar o Brasil um ator global.
A cerimônia de posse de Lula, nesse domingo (1º), contou com a presença de líderes de Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Guiana, Guiné Bissau, Mali, Marrocos, Paraguai, Portugal, República de Guiné, São Vicente e Granadinas, Suriname, Timor Leste, Togo e Uruguai.
Também haverá representantes de África do Sul, Arábia Saudita, Argélia, Azerbaijão, Camarões, China, Costa Rica, Cuba, Estados Unidos, El Salvador, França, Gabão, Guatemala, Guiné Equatorial, Haiti, Irã, Jamaica, Japão, Moçambique, Palestina, Panamá, México, Nicarágua, Palestina, Reino Unido, República Dominicana, Rússia, Sérvia, Ucrânia, Turquia e Zimbábue.
Alguns desses países tiveram divergências com o Brasil, algumas delas sérias, em anos recentes.
Para especialistas, há oportunidades para restaurar as pontes danificadas seguindo o mote “credibilidade, previsibilidade e estabilidade”, defendido por Lula para a diplomacia em seu próximo mandato.
Além da reaproximação com as potências mundiais China, EUA, França e Alemanha, há espaço para diálogos com países latino-americanos, vários deles atualmente governados pela esquerda (caso de Argentina, Chile, Colômbia e México) e de afinidade histórica com o presidente eleito.
Existe também a possibilidade de uma nova política diplomática Sul-Sul, ou seja, voltada para nações em desenvolvimento do Hemisfério Sul, o que representaria mais contatos com a África. Foi uma marca dos dois primeiros mandatos de Lula.
E mesmo a Rússia, que se acercou de Bolsonaro pouco antes do início da Guerra na Ucrânia, fez acenos ao novo governo. Lula tuitou no último dia 20 que conversou com o presidente Vladimir Putin e discutiu o “fortalecimento da relação”. Foi anunciada a vinda de uma representante russa para a posse em Brasília.
O futuro ministro das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira, anunciou que as primeiras viagens internacionais de Lula serão para Argentina, Estados Unidos e China, possivelmente nos três primeiros meses de 2023.
Mudança de tom
Vieira, experiente diplomata de 71 anos, retorna ao cargo de chanceler após uma passagem durante o segundo mandato de Dilma Rousseff (PT).
Seu anúncio causou bem menos ruído dentro da instituição do que o nome de Ernesto Araújo – que nunca havia chefiado uma embaixada e foi alçado por Bolsonaro ao posto máximo das relações exteriores principalmente por suas ligações com o filósofo Olavo de Carvalho (1947-2022).
Em seu período como chanceler, Ernesto Araújo se envolveu em diversas controvérsias.
Hostilizou abertamente a China (o maior parceiro comercial do Brasil), rompeu o caráter historicamente conciliador do Itamaraty durante votações em organismos multilaterais e minimizou a crise climática num momento em que o tema ganhava importância a cada dia.
Pressionado, Araújo foi substituído em março de 2021 pelo diplomata de carreira Carlos Alberto França, de atuação bem menos ruidosa à frente do cargo.
Mas mesmo quando o Itamaraty não estava envolvido, o governo Bolsonaro ocupou manchetes internacionais em situações inesperadas.
No primeiro ano de mandato, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ofendeu gratuitamente a primeira-dama francesa Brigitte Macron ao dizer que ela “é feia mesmo”.
Guedes voltou a ser mencionado pela mídia francesa ao declarar que o país europeu (maior empregador estrangeiro em território brasileiro) está “ficando irrelevante” para o Brasil e que o governo poderia “ligar o f…-se”.
Assim, ainda pré-candidato à Presidência e sem um cargo oficial, Lula foi convidado pelo presidente francês Emmanuel Macron para um encontro de pouco mais de uma hora em Paris, em novembro de 2021, com honrarias reservadas a altas personalidades.
Na mesma viagem ainda reuniu-se com Olaf Scholz, atual premiê alemão e então sucessor de Angela Merkel, e o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez.