Sexta-feira, 06 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2024
Em meio a certa decepção do mercado financeiro em relação ao pacote fiscal do governo, economistas avaliam que o Banco Central terá que acelerar a alta de juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os próximos dias.
Com o dólar acima dos R$ 6, as expectativas de inflação para 2025-2026 devem se deteriorar nos próximos boletins “Focus” do Banco Central (BC) e a Selic provavelmente será elevada em 0,75 ponto percentual ante expectativas anteriores de uma alta de 0,5. Se isso se confirmar, os juros fecharão o ano em 12% e as apostas são que o ciclo de alta termine com a taxa em torno de 14%.
Presidente do conselho de administração da Jive Investments e ex-diretor do Banco Central, o economista Luiz Fernando Figueiredo, avalia que o Banco Central está pressionado. Com o câmbio muito mais depreciado, as expectativas de inflação, que já estavam piorando, devem piorar ainda mais e o BC terá que subir os juros com mais rapidez.
“Se a expetativa era de uma alta de 0,5 ponto percentual (pp) em dezembro, agora já se espera 0,75 de alta. E se a taxa Selic estimada no final do ciclo de alta era 13%, 13,5%, agora terá que ser mais, talvez 14%, 14,5%. Ainda será necessário ver o comportamento do dólar e onde a moeda vai se estabilizar, já que o mercado está instável”, afirmou Figueiredo.
Para Sergio Vale, economista da MB Associados, com câmbio a R$ 6, vai ser difícil o Banco Central fazer algo diferente de elevar a Selic em 0,75 ponto percentual na próxima reunião.
“Não tem muita alternativa. O BC está caminhando para encerrar o ciclo de alta da Selic com algo próximo de 14% para conter as expectativas. É um cenário que fica mais desafiador para o BC sob nova direção. O BC precisa sinalizar agora que vai agir e isso significa aumentar a Selic em 0,75 ponto percentual. Aumentar 0,5 ponto percentual seria ruim”, diz Vale.
Se o fim do mandato da atual diretoria do BC será conturbado, 2025 será ainda mais complicado. Ou seja, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo à presidência do BC, e que vai substituir Roberto Campos, terá um ano bem difícil, na avaliação de Vale, especialmente por conta dos cenários que o governo está construindo no fiscal e também na política monetária.
Efeitos colaterais
Para Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, os efeitos colaterais negativos gerados pela decepção com o pacote fiscal do governo estão sendo muito severos, com curva de juros futuros subindo muito forte, a Bolsa despencando e o dólar acima de R$ 6.
“Isso não é uma queda de braço entre o governo e o mercado financeiro, que dá liquidez, que financia o desenvolvimento econômico. Os agentes estão sinalizando que lá na frente, algo não ficará bem”, diz Agostini, que também prevê aumento de juros de 0,75 ponto percentual em dezembro.
Nesse cenário, o Banco Central terá que apertar ainda mais sua política monetária acelerando a alta dos juros para corrigir este problema gerado agora na política fiscal, que ainda é expansionista. O economista complementa:
“Galípolo terá que ter rédea curta. A inflação de 2025 já está mais próxima do teto da meta e a inflação de 2026 já se move para cima também. Isso antes do anúncio do pacote. As próximas expectativas que o BC divulgar através do Focus certamente estarão priores”.