Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2019
Conhecido por sua defesa dos fundamentos econômicos liberais, o ministro da Economia, Paulo Guedes, contrariou o presidente Jair Bolsonaro, que em recente visita à Arábia Saudita, demonstrou interesse na adesão do Brasil ao seleto grupo da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Para Guedes, não faz sentido o País ingressar no que ele considera um cartel.
“Promover desorganizações sociais em outros países com choques de petróleo não está no cardápio do Brasil”, frisou o titular da pasta. Ele acrescentou que o atual governo federal tem suas “concepções liberais” e “jamais fortaleceria cartéis para encurralar democracias”.
A Opep tem a tradição de interferir na cotação do petróleo. Na década de 1970, optou por reduzir a produção para valorizar a commodity, o que derrubou economias, inclusive a brasileira, e provocou a maior crise da história do setor.
O suposto compromisso do governo com a economia de mercado e a democracia foi um assunto que dominou o discurso de Guedes durante a cerimônia em que o governo federal e a Petrobras assinaram o aditivo ao contrato da cessão onerosa. Em pouco mais de uma hora de evento, ele usou as palavras “democracia” ou “democrático” pelo menos 17 vezes.
Ainda de acordo com Paulo Guedes, ele acompanhará o presidente Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, para apresentar o programa de reformas planejado pela equipe econômica. “São recorrentes os contatos do Executivo com deputados, senadores e o TCU [Tribunal de Contas da União]”, comentou. “Eu estou vendo um movimento muito cooperativo entre as instituições, e em bases novas.”
Democracia x ditadura
A manifestação foi feita um dia após as declarações polêmicas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sobre possível retorno da ditadura militar mobilizarem o Congresso e as redes sociais.
O parlamentar, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, disse que se “a esquerda radicalizar”, a resposta será a reedição do AI-5 (Ato Institucional nº 5, de 1969), uma das mais duras medidas adotadas oficialmente pela ditadura militar que comandou o Brasil entre 1964 e 1985).
Trajetória da Opep
Criada em 1960 no Iraque, a Opep busca coordenar a oferta de petróleo por países produtores para sustentar preços. O grupo, que na prática é liderado pela Arábia Saudita, conta com 14 membros (incluindo Irã, Kuwait e Venezuela) e no momento está implementando um pacto de cortes de produção em associação com outros produtores não associados, como a Rússia, em aliança conhecida como “Opep+”.
O Brasil já flertou com o grupo de produtores em algumas ocasiões desde a descoberta de enormes reservas de petróleo em áreas de pré-sal, na década passada. Em entrevistas, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) chegou a afirmar que desejava ver o País como membro da Opep, o que não se concretizou mesmo com um convite formal do Irã em 2008.
Mais recentemente, já durante o governo de Michel Temer (2016-2018), o Brasil se descolou do discurso da Opep, ao defender uma rápida expansão da produção local em momento em que o cartel buscava aliados para conter a oferta global e sustentar os preços do petróleo.