Domingo, 28 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 30 de março de 2018
Como a maioria dos presídios na Venezuela, a prisão do Comando da Polícia do Estado de Carabobo, na cidade de Valencia, também estava superlotada. Construída para comportar 60 presos, continha 200. Foi nessas condições que um incêndio matou 68 pessoas na noite de quarta-feira.
Na quinta-feira, centenas de parentes dos mortos foram para a porta do presídio pedir explicações sobre o caso e culpavam, juntamente com políticos opositores e organizações de direitos humanos, o regime do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pelas más condições em que o local estava.
Ainda durante a manhã de quarta-feira, um guarda foi ferido a facadas e feito refém por um grupo de presos que ameaçaram matá-lo. Enquanto isso, outros presidiários colocaram fogo em colchões. O fogo se espalhou rapidamente e bombeiros fizeram buracos nas paredes das celas para que a fumaça se dissipasse. Mas, durante a noite, 66 homens e 2 mulheres, que estavam no local visitando parentes, morreram. Dezenas ficaram feridas.
As famílias que faziam fila na porta da prisão desde a madrugada para obter informações sobre o ocorrido entraram em confronto com policiais, que atiraram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a multidão. No fim da manhã, uma policial começou a chamar as pessoas e dizer quem havia morrido. Em seguida, ela leu nomes dos sobreviventes. “Olha, eu ainda nem tomei café da manhã. Então, tenham calma. Esses são os nomes que tenho”, concluiu.
Silêncio
Cobradas, as autoridades venezuelanas quase não comentaram a tragédia. Pelo Twitter, o presidente Maduro escreveu sobre o feriado da Páscoa e um encontro com o ator Danny Glover, mas não citou o incêndio na prisão. O governador de Carabobo, Rafael Lacava, divulgou um comunicado prometendo investigar o incêndio e melhorar a situação dos presídios, mas não detalhou o que poderia ser feito.
A oposição, por outro lado, falou do caso e criticou o silêncio do chavismo. “Diante da tragédia e da dor com o que aconteceu em Carabobo, o silêncio e a insolência do governo indicam a procura por desculpas para esconder sua óbvia responsabilidade”, disse Omar Barboza, presidente da Assembleia Nacional, dominada pela oposição, mas sem poder efetivo desde a instituição da Constituinte.
Rebeliões e mortes são comuns nas prisões mais precárias da Venezuela, onde presos têm acesso a armas e drogas. No entanto, o número de mortos no incêndio em Valencia o torna o pior em mais de 20 anos.
Túmulos coletivos
Uma das cenas mais marcantes dessa sexta-feira foi a chegada de parentes emocionados ao cemitério central de Valencia, uma cidade industrial. Eles carregavam os caixões de algumas das 68 vítimas do incêndio, que seriam colocados em tumbas recém-cavadas.
Dois dias depois do incêndio, os funcionários do cemitério afirmaram que estavam preparados para enterrar pelo menos 32 pessoas. A elas foram reservados três túmulos coletivos, com covas profundas, separadas por uma camada de blocos de concreto. Cruzes brancas com nomes das vítimas manuscritos, datas de nascimento e data de morte foram colocadas no túmulo.
“Como vou esquecer de ver meu marido queimado?”, indagou Wilca Gonzalez, 36, cujo ente querido foi o primeiro a ser colocado no chão. “Como você pode esquecer isso?”
Os enterros ocorrem no momento em que parentes, defensores dos direitos humanos e líderes internacionais pressionam as autoridades venezuelanas para que forneçam um relato completo do que aconteceu na carceragem e, principalmente, apontem os responsáveis.