Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de janeiro de 2022
Após sair da posição de peixe pequeno na política para se consolidar, após 2018, como o maior partido da Câmara dos Deputados, com 55 assentos, na rabeira do fenômeno que foi a eleição de Jair Bolsonaro, o PSL passou a receber a maior fatia do fundo partidário, os recursos que as legendas políticas recebem para a manutenção de suas operações (104,5 milhões de reais no ano passado).
Com tanto dinheiro público em mãos, o partido foi às compras: investiu parte de sua cota dos recursos públicos na compra de uma casa de 343 metros quadrados de área construída nos Jardins, área nobre de São Paulo, para acomodar uma nova sede para a legenda. O preço: R$ 5,4 milhões de reais, pagos à vista, em março, para um médico de Goiás.
O PSL está em processo de fusão com o DEM para criar um partido ainda maior, o União Brasil. O tesoureiro da nova sigla, Antonio Rueda, disse que a compra foi uma oportunidade única.
“Tratou-se de uma oportunidade de investimento e otimização de recursos, diante do alto custo de aluguel na maior metrópole do país. Além disso, o valor pago foi bem inferior à avaliação feita pelo mercado, que estimava à época que o mesmo valia cerca de 8 milhões de reais”.
Na internet, há anúncios de imóveis com metragem similar, na mesma vizinhança, por R$ 3,8 milhões.
Segundo reportagem da revista Veja, os partidos usam recursos do fundo partidário para bancar despesas de luxo das siglas e seus dirigentes. No caso do PSL, a legenda ainda comprou três automóveis, por mais de 600 mil reais ao todo.
Gastos extravagantes
Os políticos nacionais não são exatamente conhecidos pelo zelo no trato com o dinheiro público e, embora estejam longe dos melhores padrões de produtividade, trabalham firme na hora de criar regras que os beneficiam e permitem a perpetuação de castas de poder em Brasília. Dentro da longa lista de distorções criada por esse sistema ao longo da história, incluídas aí as emendas parlamentares, chama atenção no momento o apetite por fatias cada vez maiores do orçamento federal para encorpar os fundos partidário (destinado ao custeio da operação das legendas) e eleitoral (distribuído para bancar as campanhas).
Em 2022, com novo pleito marcado para outubro, essas duas fontes de receita somam impressionantes 6 bilhões de reais. A cifra recorde é quase 200% maior do que a de 2018.
O problema fica ainda mais cabeludo quando se põe uma lupa sobre como esse dinheiro vem sendo gasto. No caso da fatia destinada a gastos eleitorais, já é farta a literatura de maracutaias, com destaque para as candidaturas-laranjas.
Em termos de uso escandaloso, no entanto, o Fundo Partidário não fica muito longe. Conforme demonstra um extenso levantamento nas despesas dos diretórios nacionais das siglas em 2021, a partir de informações fornecidas por elas próprias ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), parte significativa desses gastos, que totalizaram quase 1 bilhão de reais no ano passado, vem sendo usada para permitir que os políticos desfrutem de voos de jatinho, transporte por carrões e uso de mansões. Ironia das ironias, eles ainda garantem a contratação de alguns dos melhores advogados da praça para defendê-los de acusações por corrupção — ou seja, o dinheiro público serve para livrar da Justiça os acusados de roubar dinheiro público.
Nessa lista de abusos, as diárias em hotéis de luxo ocupam um lugar de destaque. O Emiliano, um dos mais tradicionais e exclusivos de São Paulo (a diária pode chegar a 3 000 reais), virou pouso predileto dos políticos do PTB. Foram 129.000 reais gastos pela sigla no estabelecimento, um dos endereços preferidos de Roberto Jefferson, presidente licenciado da agremiação.
A direção do PTB, dando de ombros para a extravagância, afirmou que a escolha de local onde hospeda seus integrantes é ato de autonomia do partido. As faturas do Emiliano ajudaram a colocar o partido como o campeão de despesas no quesito hospedagem: 443.130 reais, mais que o dobro do segundo colocado, o PT (196.513 reais).