Domingo, 14 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de dezembro de 2025
Justamente no aguardado dia de folga, um incômodo difícil de definir revira no peito. Pode parecer contraditório, mas é na suposta tranquilidade de um domingo que muitas pessoas sentem angústia.
Em uma pesquisa realizada pela Talker Research nos Estados Unidos, os participantes relataram enfrentar a “angústia dominical”, em média, 36 vezes por ano. Considerando os 52 domingos de 2025, por exemplo, isso significa que apenas 16 seriam realmente tranquilos. O estudo ainda revelou que esse incômodo costuma aparecer por volta das 15h54.
A principal causa, apontada por 36% dos entrevistados, seria a ansiedade que surge ao pensar nas responsabilidades, nas tarefas acumuladas, nos boletos e em todos os outros desafios da vida adulta que chegam junto com o início da semana. Mas há muitos outros fatores envolvidos.
Amanhã é segunda
É simplista atribuir toda a culpa desse mal-estar à iminência da segunda-feira. Se você ama a sua rotina e, ainda assim, o domingo pesa, a resposta pode estar no que aflora quando a mente tem mais espaço para refletir. Autor de “Em Busca de Sentido”, o psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor Frankl (1905-1997) define essa sensação como a “neurose do domingo”. Sem as distrações da rotina, surge a pergunta incômoda: qual é o propósito da minha vida?
Se você anda tocando tudo no piloto automático, sem conseguir ter uma rotina gratificante além da interminável lista de tarefas, é provável que o conflito interno apareça —e, com ele, o vazio. Nesses momentos, em vez de tentar mandar a angústia embora, pode ser interessante mapear qual parte da sua vida está causando esse incômodo e o que é possível fazer a respeito.
Nada ou tudo para fazer
O domingo é o momento da semana em que, teoricamente, você poderia administrar o seu tempo livre. Na prática, porém, esse dia costuma ser engolido pelas pendências acumuladas: faxina, supermercado, marmitas para os próximos dias, lavar roupa, lista de exames que precisam ser marcados etc.
Para quem trabalha em regime 6×1, esse acúmulo é ainda pior. Quando, enfim, sobra um tempo, surge outra armadilha: a angústia causada pelo excesso de possibilidades. Praia? Série? Almoço de família? Quando você se dá conta, tem uma planilha para organizar a agenda do domingo.
A lógica da otimização do tempo tomou conta até mesmo dos nossos momentos de lazer e relaxamento, o que nos fez perder a capacidade de lidar com o ócio e com o tédio. “O domingo tem um aspecto que retira completamente a possibilidade de que seja vivido de fato: a famosa programação por antecedência”, disse o psicanalísta Guilherme Facci no episódio “A neurose de domingo”, no podcast “A loucura Nossa de Cada Dia”. “O desejo se sustenta justamente numa certa falta e, portanto, numa imprevisibilidade. Ter que programar todas as atividades de um domingo é a morte de qualquer desejo.”
Pane no sistema
Alterações nos padrões de sono, como dormir e acordar mais tarde ou passar menos tempo na cama, também têm um impacto direto no nosso humor e no nosso bem-estar emocional. Por exemplo: se você mantém uma rotina de sono regrada de segunda a quinta-feira e, nos fins de semana, muda drasticamente esse padrão, pode sofrer com o chamado “jet lag social”.
Estudos indicam que essa desregulação do nosso relógio biológico (ritmo circadiano) afeta, entre outras coisas, a produção de neurotransmissores essenciais para o equilíbrio emocional, como a serotonina.
Como lidar?
A forma como o dia começa costuma ditar o tom das horas seguintes. Se você já acorda de uma forma acelerada, é difícil recuperar o fôlego depois. Criar um ritmo mais gentil logo pela manhã —respirar fundo, tomar café com calma e ouvir uma música tranquila, por exemplo— pode fazer toda a diferença.
A preocupação com tudo o que “precisa” ser feito na segunda-feira é outro fator que pode atrapalhar momentos valiosos de lazer e descanso. Planejar o começo da semana ainda na sexta-feira pode ajudar a identificar o que realmente é prioridade e o que pode ficar para depois, aliviando a ansiedade.
Só hoje
Que tal criar rituais dominicais? Coisas gostosas que você só faz —ou escolhe não fazer— nesse dia. Pedalar em alguma avenida fechada para carros, comer pizza, almoçar com pessoas queridas, visitar a sua avó, cozinhar, cuidar das plantas, pintar, não ir à academia…
Marcar um programinha leve com amigos, ocupar a cabeça com algum hobby e mentalizar “amanhã eu me preocupo com isso” costuma ajudar. Afinal de contas, muito do que traz angústia no domingo só pode ser resolvido na segunda-feira mesmo. Com informações da Folha de São Paulo.