Sexta-feira, 10 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2025
Comunidade fica localizada entre Viamão e Porto Alegre.
Foto: PCRS/DivulgaçãoA Polícia Civil concluiu o relatório parcial da primeira fase da Operação Namastê, apontando indícios robustos de autoria e materialidade em uma série de crimes atribuídos ao líder de uma comunidade espiritual e a seus dois filhos. O local, situado entre Viamão e Porto Alegre, foi alvo de uma grande operação no fim de 2024.
As investigações tiveram início após denúncias de ex-integrantes da comunidade, que relataram práticas sistemáticas de tortura psicológica, exploração econômica, manipulação emocional e violência simbólica. Segundo o inquérito, os crimes eram cometidos sob o disfarce de rituais espirituais e terapêuticos.
Os relatos e provas colhidas revelam que os adeptos eram submetidos a rituais coercitivos, isolamento social, humilhações públicas e trabalhos forçados, além de situações de violência sexual mediante fraude e golpes financeiros.
O líder e seus dois filhos foram indiciados por associação criminosa, tortura psicológica, estelionato, redução à condição análoga à de escravo, curandeirismo, charlatanismo, crime contra a economia popular, violência sexual mediante fraude, exposição de crianças a constrangimento, falsificação de produto terapêutico, injúria racial e discriminação por orientação sexual.
Como os crimes eram praticados
De acordo com a delegada Jeiselaure de Souza, responsável pelas investigações, o grupo atraía seguidores por meio de promessas de cura espiritual e prosperidade, solicitando doações e contribuições financeiras para a realização de cursos e rituais. “As práticas envolviam métodos terapêuticos não reconhecidos e potencialmente lesivos à saúde física e mental das vítimas”, explicou.
A delegada relatou ainda que foram constatadas situações de isolamento forçado, inclusive de menores de idade, e atos que configuram tortura física e psicológica. Entre as pseudoterapias aplicadas estavam procedimentos ilegais, como ozonioterapia retal, além de rituais de “cura gay”, considerados práticas de tortura e discriminação.
“O inquérito demonstra um padrão de manipulação psicológica e abuso de poder espiritual, no qual os líderes exploravam emocional, sexual e financeiramente dezenas de pessoas vulneráveis, muitas delas com sequelas permanentes”, afirmou Jeiselaure.
As provas reunidas apontam para a atuação sistemática de um grupo organizado, que se valia da influência espiritual e da autoridade exercida sobre os seguidores para dominar, coagir e explorar emocional e financeiramente as vítimas.
A investigação também identificou desvios financeiros que podem chegar a milhões de reais, obtidos por meio de cursos, imersões e “doações forçadas”, com parte dos valores destinados à compra de imóveis, viagens e bens pessoais dos investigados.
Os desdobramentos da Operação Namastê continuam sob responsabilidade da 1ª Delegacia de Polícia de Viamão, que agora apura a participação de outros possíveis envolvidos e o destino dos recursos desviados.
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