Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de novembro de 2019
Os primeiros sinais emitidos por Lula alarmaram políticos de centro, confirmando os temores de que o petista apostaria no embate direto com Jair Bolsonaro, reacendendo a polarização. Esse grupo entende que, ao mencionar os protestos no Chile e convocar a esquerda a voltar às ruas, o ex-presidente abriu caminho para a reaglutinação da direita, com o antipetismo superando a rejeição aos erros e excessos do governo e reduzindo o espaço de discursos não radicais. As informações são da coluna Painel, do jornal Folha de S.Paulo.
“O radicalismo se retroalimenta. Ou o centro toma coragem e reage, ou o Brasil vai sofrer mais do que poderia imaginar”, diz Aécio Neves (PSDB-MG), citado pelo ex-presidente no discurso deste sábado (9).
Alguns dos aliados mais próximos de Lula reconhecem que ele poderia ter usado um tom mais moderado e ensaiam uma conversa sobre o assunto. A expectativa é a de que, tão logo consiga digerir a saída da prisão, o petista acomode seu discurso.
Esse grupo diz que, com processos criminais em curso e à espera do julgamento no Supremo da ação sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, não dá para apostar só no radicalismo.
Embora tenha dito de início que pretendia passar uma semana com a família antes de mergulhar nas conversas políticas, o ex-presidente marcou encontros para esta semana. Ele voltará a despachar do Instituto Lula.
Parlamentares de centro dizem que, ao ir para o enfrentamento, Lula dialoga apenas com a militância petista e estimula a pressão das ruas para que o Congresso resgate a prisão após condenação em segunda instância.
Divisão
A libertação de Lula foi recebida pelo mercado com alta do dólar e queda da Bolsa, reflexo de uma preocupação imediata com risco institucional e incerteza generalizada. Mas na tarde de sexta-feira (8), enquanto o ex-presidente fazia seu discurso de ataque à Lava Jato, empresários e altos executivos tiveram percepções desiguais, que variavam entre o receio de crescimento da insegurança jurídica até uma aposta no fortalecimento da agenda liberal do governo.
Para o investidor Lawrence Pih, “Lula está com sede de ajuste de contas e reforçará a oposição esquerdista”. Ele prevê que o país entrará em um período conturbado e afirma que o governo Bolsonaro está com apoio popular fragilizado atualmente.
“Se as reformas de Paulo Guedes não passarem, o Brasil continuará com crescimento pífio e Bolsonaro pode desistir de seu sonho de segundo mandato”, afirma ele. “Cabe ao Congresso, focar na prioridade de aprovar o pacote do ministro.”
Pih foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980. Passou a condenar o partido após denúncias de corrupção e erros de gestão, sendo também um dos pioneiros a fazer críticas públicas a Dilma Rousseff.
Felipe Miranda, sócio da Empiricus, pondera que ainda é cedo para fazer previsões e desenhar cenários concretos, mas cogita a hipótese de que a agenda liberal prevaleça. Ele espera que a reação inicial demonstrada pelo mercado nesta sexta-feira se neutralize.
“Acho que o mercado vai absorver o choque. Pode até ser positivo para as reformas e para Bolsonaro. Ele, em si, não representa nada. Ele é o anti-PT e precisa do antagonista. Talvez se crie um senso de urgência. Veja a Argentina. Se não acelerarmos o passo, podemos ter de novo essa turma no poder”, diz Miranda.
Gabriel Kanner, presidente do Brasil 200, grupo de empresários ligados a Bolsonaro, como Flavio Rocha (Riachuelo) e Luciano Hang (Havan), vê impactos negativos sobre o ambiente de negócios. “Causa insegurança jurídica e física. Não é só o Lula. Tem outros milhares de criminosos”, diz Kanner.
Há também os que não prevêem consequência significativa. “Não acredito que a soltura de Lula tenha algum impacto político ou econômico na vida do país neste momento”, disse Antonio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da Raia Drogasil.