Quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de outubro de 2025
Apesar dos avanços tecnológicos nas estratégias de tratamento para diversos tipos de câncer, o rastreamento e o diagnóstico ainda são desafiadores no Brasil. Desinformação, baixa integração entre setores de atendimento e falta de profissionais especializados estão entre os fatores apontados por especialistas no Summit Saúde e Bem-Estar, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo nessa terça-feira (21).
“Sabemos que a detecção precoce aumenta as chances de cura, então temos que fazer o básico bem-feito, ampliar o que já fazemos de uma forma mais eficaz”, afirmou Renata Arakelian, oncologista da Rede Américas e dos hospitais Nove de Julho e Santa Paula.
Para a médica, não há falta de equipamentos para detecção, mas é preciso acionar toda a rede para as etapas que acontecem em seguida: “Depois da mamografia, tem de ter alguém que faça a leitura, que informe a paciente de que existe um problema, aí ela precisa ter acesso a exames diagnósticos e depois ao serviço de tratamento, então existem vários gargalos”.
Apesar das campanhas de conscientização para busca da mamografia, o câncer de mama ainda é um dos que mais atingem as mulheres brasileiras. Outro tipo de câncer que preocupa autoridades e profissionais de saúde é o colorretal.
Os cânceres de colo do útero, mama, pulmão e colorretal são os mais rastreáveis, ressaltou Angélica Nogueira Rodrigues, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Assim como em outros tipos de câncer, as causas podem ser multifatoriais, mas é possível combater a doença a partir da detecção precoce, destacaram os especialistas.
Entre os principais entraves, Victor Piana de Andrade, CEO do A.C.Camargo Cancer Center, destacou o déficit de profissionais capacitados para o diagnóstico.
“O diagnóstico correto é um elemento central e existem patologistas especializados para cada tipo de tumor”, afirmou. “São mais de 800 (tipos), é uma ciência muito diversa. Saber os ‘nomes’ e ‘sobrenomes’ (dos tumores) não é simples, mas a organização da oferta de serviços e a previsão do tratamento nascem a partir do diagnóstico.”
“Nós temos um terço dos patologistas que deveríamos ter no País”, disse Andrade, ressaltando que os profissionais existentes estão distribuídos de forma desigual pelo território nacional. “É mais séria a (questão da) distribuição deles. Há grandes vazios no Brasil e o País vive um desafio enorme.”
Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou uma parceria com o A.C.Camargo para estruturar centros de diagnósticos, formar patologistas e criar uma rede para que profissionais de regiões distantes possam se comunicar e discutir os exames. No curto prazo, o hospital tem trabalhado na elaboração de laudos de pessoas à espera do diagnóstico.
Para Lenio Alvarenga, diretor médico da Novartis, ainda há muito temor em torno do diagnóstico, mas o acesso à informação deve ser trabalhado para desconstruir essa ideia: “Quem procura acha, sim, mas achar antes é sempre melhor.”
“O câncer avançado é um grande drama da oncologia. A gente precisa fazer esta mudança: sair do (diagnóstico de) câncer avançado para o (de) câncer precoce”, acrescentou Andrade. Segundo ele, se descoberto logo no início, o câncer pode passar a ser uma doença mais simples de tratar do que o diabetes.
Quanto à prevenção, os painelistas concordaram que é preciso estimular a redução da obesidade e do sedentarismo. “Podem parecer medidas bobas, mas elas têm um impacto grande na prevenção, especialmente em jovens”, disse Renata.
“As pessoas estão sobrecarregadas, especialmente as mulheres que têm grandes jornadas de trabalho e são provedoras. A alimentação e a atividade física ficam para depois, e temos de mostrar a importância dessas coisas, que podem ser simples, mas têm um impacto enorme.”
Outras formas de prevenção, lembrou Angélica, são evitar o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas; fazer os exames preventivos, como a mamografia e a colonoscopia; e tomar as vacinas contra HPV e hepatite B. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.