Sexta-feira, 17 de outubro de 2025
Por Renato Zimmermann | 17 de outubro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A prévia da COP30 está em plena movimentação, e Brasília cumpriu papel central nos dias 14 e 15 de outubro ao sediar reuniões ministeriais estratégicas que reuniram governantes, diplomatas e especialistas para moldar o rumo da conferência climática. Um dos momentos memoráveis foi o discurso da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no qual ela afirmou que é necessário “eliminar progressivamente os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis” durante a sessão “Balanço Global: Transição Energética e Fórum de Combustíveis Sustentáveis”.
Esse posicionamento não é casual: Marina Silva defendia que, embora os subsídios aos combustíveis fósseis ainda não estivessem explicitamente na pauta da COP30, eles deveriam ser tratados como parte de “adicionalidades” — ações que complementem e reforcem os compromissos climáticos nacionais.
Já o embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, marcou presença destacando a necessidade de mobilização ampla. Suas cartas presidenciais e comunicações públicas têm enfatizado a ideia de um mutirão climático global, convocando participação cidadã, alinhamento diplomático e compromisso político como condição para viabilizar os resultados esperados em Belém.
Marina Silva fez a fala durante a abertura da sessão da Pré‑COP com o tema “Transição Energética” em Brasília. No discurso, ela citou expressamente que “essa decisão representa um chamado para eliminar progressivamente os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis”, comparando que esses subsídios variam entre 1,5 e 7 trilhões de dólares ao ano, enquanto os investimentos em renováveis ainda são muito inferiores.
A declaração, portanto, não foi apenas retórica — ela apareceu no núcleo do debate oficial da Pré‑COP. Isso dá peso ao posicionamento do governo brasileiro de inserir o tema dos subsídios fósseis no escopo da transição energética, mesmo que isso ainda não esteja formalizado nas negociações da COP30.
Análise crítica: expectativa, riscos e coerência
A proposta de eliminar subsídios fósseis carrega ambição e risco. Por um lado, é coerente com o mandato de transição justa: subsídios aos combustíveis fósseis distorcem mercados, estimulam emissões e dificultam a competitividade das energias renováveis. Ao sublinhar esse compromisso em Brasília, Marina Silva deu o sinal de que o Brasil pretende usar sua presidência da COP para pressionar pela mudança estrutural, não apenas por compromissos superficiais.
Outra limitação é que a proposta de subsídios fósseis não está oficialmente incluída entre os 140 itens negociáveis da COP30, segundo informações da ministra. Isso exige que o Brasil promova articulações diplomáticas e alianças para que esse tema possa integrar as negociações ou constar como compromisso complementar.
O papel da Pré‑COP e os eventos que moldam o caminho
O encontro de Brasília foi mais que simbólico — funcionou como laboratório de consenso, como alinhamento estratégico nacional antes do grande palco em Belém. Ministros e diplomatas dialogaram em eixos como transições energéticas, uso de combustíveis limpos, balanço global (Global Stocktake) e adicionalidades de ação.
Com discursos como os de Marina e Corrêa do Lago, a presidência brasileira deixa claro que deseja que a COP30 seja interpretada como uma COP de ações, não de promessas vazias. Esses eventos pré‑COP servem para testar alianças, refinar narrativas e construir legitimidade internacional.
Conclusão
A declaração de Marina Silva sobre eliminar subsídios fósseis veio em momento estratégico, durante a Pré‑COP em Brasília — e carrega um potencial catalisador para a conferência em Belém. Se for bem articulada e transformada em compromissos concretos, pode ajudar a elevar a COP30 a um novo patamar de ambição climática. Mas será necessário que essa retórica encontre caminho prático nas negociações e se traduza em arranjos sustentáveis e justos.
Brasília, nesse sentido, não foi apenas preparação logística — foi ensaio diplomático. E o sinal de subsídios fósseis iluminou uma linha no mapa climático: ou a COP é de implementação de transformações profundas, ou ela corre o risco de ser mais um festival de discursos sem consequências.
Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista pela Transição Energética.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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