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Por Redação O Sul | 24 de setembro de 2019
A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, anunciou nesta terça-feira (24) a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump.
O republicano será investigado devido a um telefonema, em julho, no qual ele teria pressionado o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a investigar o filho de um de seus principais adversários, o democrata Joe Biden.
Hunter, filho do pré-candidato à Presidência e possível rival de Trump em 2020, é integrante do conselho de uma empresa de gás ucraniana.
“Isto é uma quebra da Constituição americana”, afirmou Pelosi ao anunciar a abertura do processo. “O presidente precisa ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei”, disse ela após um encontro com a bancada democrata, que tem maioria na Câmara.
Uma semana antes do telefonema, o presidente americano havia congelado uma ajuda de cerca de US$ 400 milhões para a Ucrânia. A oposição afirma que o republicano usou a verba para pressionar Zelenski a investigar o filho de Biden, o que a Casa Branca nega. Em 11 de setembro, portanto após a conversa, a verba foi descongelada.
Muitos democratas já vinham sugerindo, em público e em particular, que as evidências recentes indicavam a pressão de Trump sobre o governo ucraniano, e acusavam sua tentativa de obstruir o acesso do Congresso a mais informações.
Um agente de inteligência que ouviu a conversa de Trump com o líder ucraniano —um procedimento padrão nos Estados Unidos— alertou as autoridades de que o presidente teria colocado em perigo a segurança nacional.
O Congresso foi automaticamente avisado do problema, mas não recebeu detalhes.
Com isso, os deputados fizeram duas requisições ao governo: que liberasse a transcrição das conversas do presidente com Zelenski —o Senado fez um pedido semelhante— e que permitisse que o agente que ouviu a ligação testemunhasse sobre o caso (ele ainda não teve o nome divulgado).
Trump disse que permitirá a divulgação da transcrição e nega ter cometido algum erro. Logo após a fala de Pelosi, ele recorreu ao Twitter para se defender.
Voltou a afirmar que é alvo de uma “caça às bruxas” e que os democratas promovem uma “perseguição presidencial”.
Já o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, afirmou que o agente concordou em testemunhar.
O contato entre o americano e o presidente ucraniano foi revelado pela imprensa americana ao longo dos últimos dias e fez aumentar a pressão para que Pelosi desse início aos procedimentos de impeachment contra o republicano.
Na ocasião, o presidente americano teria pedido que o ucraniano trabalhasse com seu advogado pessoal, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, na investigação contra o adversário.
Giuliani se encontrou nesta terça com o presidente Jair Bolsonaro, após o discurso do brasileiro na Assembleia Geral da ONU. Na saída, ele comentou o caso e atacou os democratas.
“Eles são um bando de enganadores políticos. Tudo o que eles estão fazendo é torná-lo [Trump] mais popular. E o que eles estão fazendo é destruir a si próprios”, afirmou Giuliani.
“A Câmara não é uma instituição séria. A Câmara existe para fazer o que puder para derrotar o presidente Trump, incluindo mentir consistentemente”, completou ele.
Questionado sobre a abertura do processo de impeachment contra Trump, Bolsonaro, ao sair do hotel em que está hospedado em Nova York, disse que o americano “vai ser reeleito no ano que vem.”
Acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente brasileiro estava a caminho do coquetel promovido por Trump quando foi abordado por jornalistas.
Apesar de diversas alas democratas defenderem a abertura do processo, Pelosi se recusava a dar início à medida. Até então, afirmava que um processo poderia aumentar a polarização e influenciar as eleições de novembro de 2020.
Além disso, a deputada afirmava que as chances de o impeachment ser aprovado no Senado eram baixas, já que a Casa tem maioria republicana.
Segundo o jornal The Washington Post, Pelosi mudou de ideia com as revelações. A tendência é que ela autorize a criação de uma comissão especial para investigar Trump, semelhante à que foi criada em 1973 para apurar o papel do então presidente Richard Nixon no escândalo de Watergate.
Nixon acabou renunciando ao cargo em 1974, antes de a Câmara concluir o processo.
Em toda a história americana, apenas duas vezes os deputados autorizaram o impeachment contra o presidente: em 1868, contra Andrew Johnson, e em 1998, contra Bill Clinton. Os dois acabaram inocentados no Senado e puderam seguir no cargo.