Segunda-feira, 17 de junho de 2024
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2024
A atriz Paolla Oliveira é o exemplo mais recente de mulher famosa atacada nas redes sociais por causa do corpo. Ela se junta a uma extensa lista de vítimas de hate – onda de comentários agressivos on-line – ao longo de 2023: Viih Tube e sua bebê, Jojo Todynho, entre outras, também foram alvo de ataques virtuais.
O mecanismo, segundo especialistas, é parte da pressão estética que afeta a saúde física e mental de mulheres. Apesar do cenário sombrio, há uma luz no fim do túnel: cada vez mais, as mulheres têm desafiado os padrões impostos pela sociedade, e os agressores não têm passado impune dos linchamentos virtuais.
Paolla Oliveira e a liberdade do corpo
Na última semana, a atriz compartilhou nas redes um vídeo de um ensaio na escola de samba Grande Rio, onde vai sair como rainha de bateria. Aos 41 anos, essa é a sexta vez que Paolla ocupa o posto na escola – um recorde. No entanto, o vídeo, que tem 6 milhões de visualizações, gerou uma onda de ataques. O motivo? sua idade e o seu corpo real e sem retoques.
A psicanalista e coordenadora do núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio Joana Novaes explica que os comentários e a violência são o retrato da prisão estética a que os corpos femininos estão submetidos.
“A mulher está presa à manutenção do corpo assim como ela esteve historicamente presa à maternidade e ao casamento. E esse padrão é uma prisão. Uma estrutura de controle já que não podemos, socialmente, estar engajadas em outros projetos que não o da beleza” disse Joana.
Paolla não respondeu aos ataques, mas a onda de violência foi revidada na mesma intensidade por mulheres que se uniram para comentar e compartilhar o vídeo questionando a atitude violenta dos haters, e fazer elogios à atriz.
Também houve posicionamentos de outras mulheres famosas – o que mostra uma forma de organização em proteção contra esse tipo de comportamento.
Viih Tube e a cobrança do corpo pós-maternidade
A influenciadora Viih Tube, que tem 22 anos e foi mãe no início deste ano, também foi alvo de hate por conta do seu corpo. A ex-BBB usa as redes sociais para compartilhar conteúdo de maternidade e, recentemente, fez vários vídeos mostrando o seu corpo real pós-parto. Ela também tem compartilhado sua relação com sua nova forma física pós-maternidade.
Ao longo do processo, ela foi criticada pelo sobrepeso e recebeu vários comentários questionando o motivo de não ter se submetido a lipoaspiração – cirurgia plástica para a retirada de gordura – para acelerar o emagrecimento após o parto já que teria condições financeiras.
A influenciadora chegou a rebater os posts dizendo que isso não estava nos planos e relembrou que foi mãe há apenas poucos meses.
A filha de Viih Tube, Lua, também foi sofreu comentários maldosos sobre o seu padrão de corpo. Com menos de um ano de idade, ela tem sua rotina compartilhada nas redes pela mãe, que contou receber comentários como: “Do que adianta nascer rica, mas ser obesa?”; “Tinha tudo pra ser linda, mas é obesa. Tadinha” e “Ela vai explodir”.
A banalização do risco
O padrão é cíclico. Em dez anos, por exemplo, as irmãs Kardashians passaram de um símbolo de corpo curvilíneo para um modelo mais magro. Ou seja, a moda passa, mas é difícil submeter o corpo a tantas mudanças, o que torna os padrões inalcançáveis.
Segundo a especialista, a pressão estética custa a saúde mental das mulheres com doenças como distorção de autoimagem, transtornos alimentares, depressão e ansiedade.
Além disso, isso se reflete na banalização de procedimentos, cirurgias e remédios que colocam em risco à saúde e podem levar à morte.
Recentemente, uma jovem de 24 anos teve de ser hospitalizada depois de colocar um “chip da beleza” turbinado com ocitocina, conhecida popularmente como hormônio do amor. A promessa do chip, quer é proibido pela Anvisa, era de que a ocitocina ajudaria no emagrecimento – o que não tem qualquer comprovação científica.
O uso massivo de canetas desenvolvidas para o tratamento de diabetes com o objetivo de perder peso. Recentemente, a Anvisa chegou a emitir um alerta sobre lotes falsos dos medicamentos circulando no mercado.
E os casos frequentes de pacientes mortas em salas de cirurgia em razão de procedimentos estéticos.
A psicanalista Joana Novaes explica que isso é ainda mais intenso quando falamos de mulheres famosas, já que o poder aquisitivo e a fama trazem consigo a cobrança para que mantenham o corpo dentro do padrão esperado.
“Elas podem pagar por procedimentos, independentemente dos riscos. Então, [na cabeça da sociedade,] não há justificativas para não estarem magras e jovens. Não importa que isso lhes custe a saúde. Não importa os planos, os desejos. Não há nada mais importante do que o investimento no corpo e na aparência. A mulher que não faz esse tipo de investimento é tida como incapaz, incompetente”.