Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de julho de 2015
A prisão do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada, na 15 fase da Operação Lava-Jato, reforça os indícios de que o esquema de cartel e corrupção revelados nas obras de refinarias da estatal entre 2004 e 2012 foi reproduzido nos contratos de construções offshore, como plataformas, embarcações e navios-sondas – mercado aquecido a partir de 2007 após a descoberta do pré-sal.
Dois novos personagens dessa frente de apuração são Hamylton Padilha Pinheiro Júnior e Raul Schmidt Fellipe Filho, investigados pela força-tarefa da Lava-Jato como elos da propina paga ao ex-diretor. Ambos foram representantes de empresas internacionais contratadas pela Petrobras, em especial na área Internacional, e podem estar envolvidos com a fortuna de 11 milhões de euros oculta de Zelada, descoberta em contas secretas em Suíça, Mônaco e China.
Hamylton Padilha, como é conhecido, é apontado como representante de empresas internacionais no Brasil vencedoras de dois contratos da diretoria Internacional, em 2008 e 2009. Schmidt é ex-diretor de uma subsidiária da Petrobras em Angola, entre 1994 e 1997, ex-representante de multinacional norueguesa contratada da estatal e atual sócio de Zelada.
Único preso da Operação Conexão Mônaco, o ex-diretor é suspeito de ter dado continuidade entre 2008 e 2012 ao esquema do PMDB de cobrança de propinas na área Internacional, iniciado pelo seu predecessor Nestor Cerveró (2005 a 2008).
O ex-diretor que antecedeu Zelada está preso desde janeiro, em Curitiba (PR), pela Lava-Jato. Cerveró já foi condenado por lavagem de dinheiro e é réu em processo de corrupção pelo recebimento de 30 milhões de dólares de propina nas contratações dos navios-sondas Petrobras 10.000, em 2006, e Vitória 10.000, em 2007.
Segundo a Lava-Jato, nessas primeiras duas contratações foram comprovadas a participação de dois operadores. O lobista Fernando Baiano – que está preso desde dezembro, acusado de ser elo do PMDB no esquema – e o lobista Julio Gerin Camargo – delator da Lava-Jato com elos com integrantes do PT. Camargo, como representante da sul-coreana Samsung Heavy Industries em parceria com os japoneses do grupo Mitsui, confessou ao juiz federal Sérgio Moro – que conduz os processos da Lava-Jato – ter pago os 30 milhões de dólares por intermédio de Baiano para Cerveró.
Novos nomes
Com Cerveró fora da Petrobras em 2008, foi Zelada quem fechou a contratação dos dois outros navios-sondas que faziam parte do projeto iniciado pelo antecessor, o Ensco DS-5 e o Titanium Explorer. Os contratos desses quatro navios-sondas passaram por auditoria da Petrobras que apontaram prejuízos milionários à estatal. “Diversas irregularidades foram constatadas pela auditoria da Petrobras que analisou a contratação da empresa Vantagem, tendo apurado a responsabilidade de Zelada pelas desconformidades”, registra o MPF (Ministério Público Federal).
Os dois navios-sondas restantes do pacote foram vencidos pelas empresas Pride International e Vantagem Deepwater Company, que tinham como representante nas negociações com a Petrobras Padilha. Seu papel seria similar ao de Camargo, como representante da Mitsui e da Samsung, nas negociações dos primeiros dois navios-sondas fechados com Cerveró. No caso do primeiro contrato com a empresa Pride para o navio-sonda Ensco DS-5, o MPF registrou que a “auditoria da Petrobras” detectou “um superfaturamento de 118 milhões de dólares”.
No caso do segundo contrato, de 2009, com a Vantagem para o Titanium Explorer, o MPF informou que “inúmeras irregularidades marcaram a contratação desse navio-sonda pela Petrobras”. O prejuízo foi de 14,5 milhões de dólares.
Em decisão que decretou a prisão de Zelada, Moro sintetizou as principais irregularidades. Listou “superfaturamento”, “assinatura dos contratos antes da autorização da diretoria executiva” e “taxa de bônus de performance de 17% em favor da contratada, superior à praxe de mercado de 10%”.
Para a força-tarefa da Lava-Jato, o esquema de propina nos dois primeiros contratos de navios-sondas (de 2006 e 2007) que levaram Cerveró, Baiano e Camargo ao bancos dos réus, foi mantido nos contratos de 2008 e 2009, sob a gestão de Zelada. (AE)