Sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de junho de 2019
O site Intercept publicou na sexta-feira (28) diálogos que atribuiu a procuradores da Lava-Jato com críticas à decisão do então juiz Sérgio Moro de aceitar convite do recém-eleito presidente Jair Bolsonaro para ser ministro da Justiça. As informações são do portal G1.
Um dia antes do anúncio de Moro, quando circulavam fortes boatos de que ele participaria do governo Bolsonaro, a procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, teria escrito: “Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo”.
O Intercept afirma que, em 6 de novembro, dias depois de Moro ter aceitado o convite, Deltan Dallagnol, segundo o site o procurador mais leal a Moro, disse estar preocupado com os danos causados à reputação e à credibilidade do trabalho realizado pela Lava-Jato. A conversa teria sido com a procuradora Janice Ascari.
Trechos dos diálogos
6 de novembro de 2018 – chat privado:
Deltan Dallagnol – 11:50:41 – Jan, não sei qual sua posição sobre a saída do Moro pro MJ (Ministério da Justiça), mas temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública. Na minha perspectiva pessoal, hoje, Moro e LJ (Lava Jato) estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a LJ e vice-versa. Ainda que eu tenha alguma ponderação pessoal sobre a saída dele, que fiz diretamente a ele, é algo que seria importante – se Vc concordar – defender… Quanto à delação do Palocci, tema em que podem entrar, expliquei essa questão na minha entrevista da Folha de umas semanas atrás, não sei se chegou a ver, então mando aqui… bjus
Janice Ascari – 12:55:05 – Oi querido, nosso pensamento é convergente. Também me preocupo com esse aspecto da parcialidade dele, porque põe em dúvida, também, o trabalho do MPF. Pretendo, além de, claro, defender a LJ como sempre faço (até quando não concordo com algumas coisas rsrs), mostrar que o Ministério da Justiça tem muita coisa com que se preocupar além da LJ, que continuará com Moro ou sem Moro.
Outro diálogo, de 1° de novembro:
Monique Cheker – 11:27:01 – Diferente se fosse ao STF direto. Seria perfeito. Políticos precisam obedecer prazos de desincompatibilidade. Por que não juízes e membros do MP? O distanciamento é importante numa república. Não basta ser honesto, tem que parecer honesto. Enfim.
Alan Mansur – 11:28:04 – [imagem não encontrada]
Monique Cheker – 11:28:23 – E a “escadinha” disso tudo foi terrível: Moro ajudou a derrubar a esquerda, sua esposa fez propaganda para Bolsonaro e ele agora assume um cargo político. Não podemos olhar isso e achar natural.
O site publica um diálogo anterior em que procuradores teriam afirmado que o então juiz Moro infringia sistematicamente os limites da magistratura para alcançar o que queria. O diálogo seria de 1° de novembro de 2018 e teria ocorrido uma hora antes de Moro anunciar que aceitaria o convite para ocupar o Ministério da Justiça. Numa primeira versão, antecipada pelo editor do Intercept Glenn Greenwald numa rede social, o site atribuiu os diálogos à procuradora Monique Cheker e ao procurador Angelo Goulart Villela. Na época, porém, este procurador já estava afastado do MP por suspeitas de corrupção. Ele foi afastado em 2017.
1º de novembro de 2018 – BD
Ângelo – 10:00:07 – Cara, eu não confio no Moro, não. Em breve vamos nos receber cota de delegado mandando acrescentar fatos à denúncia. E, se não cumprirmos, o próprio juiz resolve. Rs.
Monique – 10:00:30 – Olha, penso igual.
Monique – 10:01:36 – Moro é inquisitivo, só manda para o MP quando quer corroborar suas ideias, decide sem pedido do MP (variasssss vezes) e respeitosamente o MPF do PR sempre tolerou isso pelos ótimos resultados alcançados pela lava jato
Ângelo – 10:02:13 – Ele nos vê como “mal constitucionalmente necessário”, um desperdício de dinheiro.
Monique – 10:02:30 – Se depender dele, seremos ignorados.
Ângelo – 10:03:02 – Afinal, se já tem juiz, por que outro sujeito processual com as mesmas garantias e a mesma independência? Duplicação inútil. E ainda podendo encher o saco.
Monique – 10:03:43 – E essa fama do Moro é antiga. Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele já atuava assim. Alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da pro atividade dele, que inclusive aprendiam com isso.
Ângelo – 10:04:30 – Fez umas tabelinhas lá, absolvendo aqui para a gente recorrer ali, mas na investigação criminal – a única coisa que interessa -, opa, a dupla polícia/ juiz eh senhora.
Monique – 10:04:31 – Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados
Horas depois de Glenn Greenwald publicar esse diálogo, o site Intercept publicou o texto sobre as supostas críticas, mas o nome do procurador foi mudado para apenas Ângelo.