Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de junho de 2015
Com dificuldades para impor sua agenda, mesmo diante de um governo federal enfraquecido, o PSDB renovará a Executiva Nacional no próximo mês, buscando superar uma espécie de crise de identidade pela qual passa e também saídas para conseguir estruturar um discurso às eleições municipais de 2016. Embora comemorem a deterioração da imagem da administração Dilma Rousseff e do PT, setores da sigla admitiram que ainda falta para a legenda mecanismos para poder capitalizar a insatisfação dos eleitores.
Internamente, há também cobranças para se decodificar o discurso apresentado pelos tucanos e críticas à falta de uma postura mais clara em temas que envolvem o dia a dia da sociedade. Posições recentes da bancada do PSDB na Câmara dos Deputados foram alvo de ataques de tucanos históricos por contrariar decisões antigas do partido, em especial, o apoio ao fim da reeleição e a flexibilização do fator previdenciário, instituídos no governo de Fernando Henrique Cardoso, além de outras votações, como a reforma política e o ajuste fiscal.
Neste semestre, a legenda também viveu momentos de dissidências internas e críticas externas ao decidir descartar a possibilidade de pedir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Após queda de braço entre integrantes da bancada no Legislativo e a cúpula do partido, optou-se, a contragosto de parte dos parlamentares, por um pedido de ação penal contra a governante devido às pedaladas fiscais.
Na avaliação de integrantes da Executiva Nacional e da bancada no Congresso, a ambiguidade em algumas iniciativas do comando do PSDB se deve, em parte, ao eleitoralismo, no qual, por receio de impactos eleitorais, se evita um posicionamento ostensivo em assuntos polêmicos. O deputado federal Jutahy Júnior afirmou que será necessário que a sigla tenha mais formulação sobre os temas que a sociedade está discutindo.
Jutahy comentou a necessidade de uma posição política sobre os temas que estão no cotidiano da população. “Dentro da bancada não está faltando essa discussão. Mas creio que a legenda tem que integrar mais o Instituto Teotônio Vilela na questão da formulação das politicas públicas para que fique claro à comunidade”, explicou o parlamentar, ligado ao senador José Serra (SP). Integrante do grupo mais próximo de Geraldo Alckmin, por sua vez o deputado Sílvio Torres (SP) tem fé que a nova Executiva do PSDB realize um trabalho para estar sintonizada com as reivindicações das ruas.
Recondução
O atual presidente da sigla, senador Aécio Neves (MG), será reconduzido ao cargo em uma cúpula que será reforçada pela ala paulista. Torres deverá ocupar a secretaria-geral do PSDB na convenção nacional da legenda em julho. O posto é considerado o segundo cargo na hierarquia tucana, abaixo somente da presidência.
O parlamentar acha que a sigla saiu de uma eleição presidencial com uma carga de votos onde se misturam várias tendências. “O PSDB está realmente tentando ser uma resultante disso, mas para isso tem que administrar. Aqueles votos não foram todos de partidos, foram boa parte de rejeição ao que está aí”, admitiu o deputado. Ele acrescentou que uma função importante da nova Executiva será harmonizar isso. “É preciso por a legenda bem mais sintonizada do que está agora”, ressaltou Torres.
Ao falar sobre as vacilações em alguns temas controversos discutidos no primeiro semestre no Legislativo, Torres considerou que a falta de um posicionamento convincente em determinados casos não está relacionado ao receio de possíveis impactos eleitorais. “A verdade é que os temas polêmicos estão vindo rapidamente. Não é só o PSDB que não está muito preparado para dar respostas. Ninguém lá dentro do Congresso está. Não dá tempo de decantar opiniões sobre assuntos tão fortes”, afirmou o tucano.
Para o atual secretário-geral do PSDB e deputado Mendes Thame (SP), a sigla tem que acabar com a cultura enraizada ao longo dos anos, na qual poucos participam das decisões internas. “Não é uma critica à gestão atual ou dos que passaram, é uma cultura interna que está em todos os partidos”, assegurou o político.
Terceirização
Outro exemplo lembrado por tucanos, que dividiu o partido no primeiro semestre e passou uma imagem confusa para os eleitores, foi a discussão sobre o projeto da terceirização, que atinge muito os setores sindicalizados. Na discussão do texto, que ampliou a terceirização para atividade-fim, o PSDB não conseguiu votar de forma coesa. Dos 43 deputados na votação, dez foram contra a orientação pela aprovação da iniciativa.
Embora a maioria tenha sido a favor, Aécio defendeu que o texto fosse aprimorado. “Vamos propor limite para que as empresas possam terceirizar atividades. O Senado melhorará o projeto”, disse o chefão tucano. (AE)