Domingo, 09 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de julho de 2017
Três meses antes de ser preso na operação Operação Lava-Jato, o publicitário André Gustavo Vieira levou ao STF (Supremo Tribunal Federal) o que considerava serem provas de que a denúncia da Odebrecht de que teria recebido R$ 3 milhões em propina para Aldemir Bendine, então presidente do Banco do Brasil, era equivocada. Em uma petição, advogados anexaram dois comprovantes de pagamento de impostos sobre os valores recebido, tornados públicos pela empreiteira no fim do ano passado, em sua colaboração premiada.
No documento, Vieira assumia ter recebido os valores em 2015 em espécie, entregue pelo setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que ficou conhecido como setor de propina. Mas dizia que eram referentes a uma consultoria prestada por ele na época do pagamento. De acordo com sua narrativa, trabalho que teve como único objetivo “aproximar os corpos técnicos da Odebrecht e do Banco do Brasil” para evoluir a liberação de crédito que a empreiteira tentava junto à estatal.
Dono da Arcos Propaganda, André Gustavo teria cobrado da empreiteira R$ 17 milhões e recebeu da Odebrecht R$ 3 milhões em espécie apenas para obter informação sobre o que estava travando um empréstimo de R$ 1,7 bilhão no Banco do Brasil. Ele teria perguntado a Bendine e repassado a orientação para a empresa.
O advogado do publicitário, Ademar Riguera Neto, afirma que André Gustavo e Bendine são amigos pessoais e que desconhece se Bendine sabia que o publicitário havia oferecido para ajudar a Odebrecht a destravar o empréstimo. Segundo ele, a orientação dada por Bendine não configura crime de tráfico de influência, pois ele não recebeu qualquer valor em troca.
“Bendine passou a informação para o André Gustavo e não há qualquer ilegalidade nisso. Bendine não interveio na concessão do crédito, que não passou por ele, e não há qualquer prova de que tenha recebido valores de André Gustavo”, disse o advogado.
Questionado se R$ 17 milhões – 1% do valor do empréstimo – não era muito dinheiro para obter uma única informação, Riguera Neto disse que não. “Se a informação resultou na liberação do pagamento, foi bem pago.”
Pagamento tardio
Pela circunstância em que foi produzida, a prova virou-se contra o próprio acusado. Isso porque os impostos foram pagos em abril deste ano, dois anos depois do suposto serviço ter sido prestado por Vieira, o que o juiz Sérgio Moro entendeu como algo que “não favorece sua versão dos fatos”.
A tentativa ainda custou caro a Vieira, que pagou quase R$ 1,1 milhão à União a título de impostos da propina de R$ 3 milhões. É um valor alto porque soma taxas e multas em função do atraso do pagamento.
Em colaboração premiada, Marcelo Odebrecht e o executivo da Odebrecht Fernando Santos sustentaram terem recebido pedido de propina de R$ 17 milhões para Aldemir Bendine, para que houvesse a liberação de créditos da empresa junto ao Banco do Brasil. O valor teria sido reduzido para R$ 4,1 milhões e, posteriormente, a R$ 3 milhões.
“Tudo não passou de contratação de uma consultoria, e agora, quando das colaborações, fez-se uma ‘maquiagem’ com o intuito óbvio de transformá-la em algo com sombras de uma possível corrupção”, sustentaram os advogados de Vieira.