Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de outubro de 2015
De um extremo a outro, Nelita (Bárbara Paz), da novela “A Regra do Jogo”, da TV Globo, transita entre períodos de euforia e outros de depressão. Assim como a personagem, cerca de 1,8 a 15 milhões de brasileiros sofrem de algum grau de transtorno bipolar, segundo estimativas da ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar). Quando mais cedo a doença for diagnosticada, melhor é a evolução do tratamento, que permite à pessoa levar a vida sem comprometimento dos relacionamentos pessoais e da profissão.
De acordo com o psiquiatra Rodrigo Pessanha de Castro, o transtorno bipolar se caracteriza pela alternância de fases de exaltação (conhecidas como mania) e de depressão, que podem ser intercaladas por períodos de normalidade. Aceleração do curso do pensamento e da linguagem, agitação psicomotora, desinibição e comportamentos socialmente inapropriados são sintomas da mania. Na depressão, há predominância de rebaixamento do humor, redução do ânimo e iniciativa e ideias recorrentes de autodesvalorização e ruína pessoal.
“São fases que duram bastante. O paciente não experimenta as duas sensações no mesmo dia, como se pensa popularmente”, explica o médico.
De acordo com a psiquiatra Alexandrina Meleiro, da Associação Brasileira de Psiquiatria, pessoas com transtorno bipolar ficam em estado de depressão em 60% a 70% da vida. Se não tratadas, as fases podem durar de dois a seis meses.
Causas e sintomas.
A origem do transtorno bipolar está ligada a fatores genéticos, traços da personalidade e fatores ambientais. Pessoas com personalidade borderline (que não toleram muito bem a frustração) têm mais risco. A fase de depressão costuma se instalar gradualmente. A pessoa vai sentindo uma tristeza e um mal-estar que se ampliam devagar. Alguns pacientes apresentam a mania e a depressão no mesmo grau de intensidade (bipolar tipo 1). Outros podem ter quadros de euforia mais leves (bipolar tipo 2). O paciente é submetido à psicoterapia e remédios.
Crítica à novela.
Apesar de ter trazido o tema à discussão, especialistas garantem que as cenas de Bárbara Paz na novela não são fiéis àquelas que acontecem na vida real de um bipolar.
A ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) se posicionou sobre o folhetim e diz: “É importante salientar que a personagem da novela não tem nenhuma relação com a realidade de nenhuma patologia psiquiátrica. O quadro apresentado não tem nenhuma relação com o Transtorno de Humor Bipolar”.
“[A novela] Passa uma ideia de que o bipolar não tem limites hora alguma, que nunca sabe o que quer, que é louco e que tem mais de uma personalidade, como se tudo fosse ou oito ou oitenta, sempre com drogas, dívidas e violência. Isso está fora da realidade.”
A Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) se manifestou contra os estereótipos da novela. “A novela veicula uma informação incorreta sobre o que é transtorno bipolar e, como foi ressaltado nos capítulos iniciais, confunde transtorno de múltiplas personalidades [ou transtorno dissociativo de identidade] com transtorno bipolar com sintomas psicóticos e mostra o personagem em questão com comportamentos que não se identificam com os sintomas dos Transtornos de Humor”.