Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 22 de abril de 2019
O processo de reestruturação global da indústria automobilística que fez da Ford do ABC paulista sua primeira vítima no Brasil já levou ou levará em breve ao fechamento de pelo menos 20 fábricas, a maior parte na Europa e nos Estados Unidos. Em busca de receitas para aplicar em tecnologias e produtos para atender a uma nova demanda de consumidores, as multinacionais estão se desfazendo de operações deficitárias ou de baixo retorno financeiro. Novas baixas vão ocorrer nos próximos anos.
O efeito sobre o emprego será “brutal”, diz o presidente da Acea (Associação Europeia de Fabricantes de Veículos), Carlos Tavares, também presidente da francesa PSA Peugeot Citroën. Segundo ele, só neste ano, foram anunciadas 30 mil demissões. Para Tavares, as mudanças estão sendo feitas rápido demais para atender as novas legislações, principalmente, nos países europeus. Paralelamente, as montadoras se preparam para acompanhar as mudanças tecnológicas se juntando a empresas que dominam mais o tema. Na última década, adquiriram 443 startups em especial dos setores de manufatura 4.0, eletrificação, compartilhamento e conectividade.
Um exemplo é a General Motors, que vai fechar dez fábricas na América do Norte, Ásia e Austrália. Por outro lado, investiu em 44 startups, das quais 22 ligadas à eletrificação e manufatura digital, segundo estudo da consultoria KPMG. No Brasil, após concluir negociações com governos, funcionários, revendas e fornecedores para reduzir custos, a GM anunciou, semana passada, novo plano de investimento de R$ 10 bilhões. Em janeiro, a presidente mundial da empresa, Mary Barra, disse que não continuaria investindo na América do Sul “para perder dinheiro” e exigiu a volta da lucratividade este ano. Para o economista José Roberto Mendonça de Barros “a indústria automobilística mundial passa por um furacão e trava uma luta pela sobrevivência”.
O que impressiona, diz ele, é que o setor enfrenta quatro ameaças simultâneas: a posse do carro já não é desejo de muitos jovens; o modelo de negócios deixa de ser só de produção e venda de carros e inclui prestação de serviços; a mudança do motor a combustão para os elétricos e, depois, autônomos; e o uso maior da tecnologia embarcada. “São quatro linhas de mudanças globais definitivas que exigem desafio gigantesco”.
Ociosidade nas fábricas
Além de atender a uma nova demanda voltada a utilitários-esportivos (SUVs) e picapes, e no médio e longo prazos à produção voltada a elétricos e autônomos, o movimento de reestruturação tenta aliviar a alta ociosidade das fábricas. Dados da PricewaterhouseCoopers (PwC) mostram que, neste ano, 41,8 milhões de veículos vão “sobrar” nas fábricas de todo o mundo. Desse total, 2 milhões são no Brasil, onde a indústria tem capacidade para 5 milhões de veículos.
No mundo, as montadoras têm capacidade para 139,7 milhões de automóveis e comerciais leves, mas a produção prevista para este ano é de 98 milhões. A ociosidade de 40% começará a regredir até chegar em 28% em 2025. Ainda assim, haverá “sobra” de 32 milhões de veículos, pois a capacidade produtiva continuará crescendo, ainda que em ritmo menor. Segundo Mendonça de Barros, mesmo sem o fenômeno dos elétricos e autônomos, que exigirá profunda mudança no jeito de se produzir veículos, “teria de ocorrer uma concentração porque há mais fábricas do que demanda, no Brasil e no mundo”.