Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 28 de maio de 2020
Antonio Fagundes estrearia esse mês a temporada carioca da peça “Baixa terapia” se não fosse o coronavírus. Isolado em sua casa, no Rio, ao lado da mulher, a atriz Alexandra Martins, o ator de 70 anos define como um “choque” o efeito da pandemia não só no teatro, como em toda cena cultural brasileira.
“O teatro vai sofrer muito até acharem uma vacina. As sinfônicas, as óperas, espetáculos de dança, tudo que exige uma concentração grande de público”, avalia. “É um grande choque para a cultura brasileira, que já estava sendo sucateada antes da pandemia.”
Fagundes é o segundo participante do “Entrevista na janela”, série em vídeo produzida pelo jornal O Globo, para este período em que cientistas e autoridades médicas recomendam o distanciamento social — o primeiro entrevistado foi Fabio Porchat. A entrevista foi realizada pela repórter Maria Fortuna por telefone e gravada por um drone.
Sobre Regina
Par romântico de Regina Duarte em novelas como “Vale Tudo” e “Por Amor”, o ator diz que a colega “saiu queimada de todos os lados” do comando da secretaria da Cultura de Bolsonaro.
“A classe não gostou nem um pouco da participação dela. Nem os próprios bolsonaristas. Então, foi uma inútil passagem para a biografia dela.”
Sobre o nome cotado para substituir a atriz no posto, o do ator Mário Frias, Fagundes é categórico:
“Enquanto o governo estiver interessado em sucatear a educação, a cultura e todas as conquistas que tivemos até hoje, nada vai resolver. Nem a economia resolverá com qualquer pessoa que se coloque lá”, afirma. “Quem entrar em ministério e tiver que obedecer às ordens desse governo autoritário vai ter problemas. A gente está vendo isso inclusive no Ministério da Saúde no auge de uma pandemia.”
Silêncio do governo
O ator diz que o silêncio diante de mortes recentes de personalidades da cultura do país, como Rubem Fonseca, Moraes Moreira, entre outros, é “uma consequência da mentalidade desse governo”.
“Um governo que diz ‘e daí?’ pra quase 20 mil mortos não vai levar em conta dez ou 20 intelectuais que venham a morrer”, lamenta. “Flávio Migliaccio faz falta e fez muita diferença nos anos em que esteve com a gente. Assim como Lima Duarte e todos que se preocupam com a cultura e com uma sociedade mais justa.”
Apesar dos pesares, pessoalmente, o ator tem vivido bons momentos na quarentena.
“Ficar em casa nesse momento tem sido a redescoberta de uma vida que eu tinha perdido há mais ou menos 50 anos. Porque a gente trabalha muito, né? Estou aproveitando para arrumar a casa, jogar muita coisa fora”, conta ele, que também tem lido muito. “Estou lendo ’21 lições para o século 21′, do (Yuval) Harari, e ‘Amazona’, do Sérgio Sant’Anna, que, infelizmente, acabamos de perder. Lendo, consigo relaxar das notícias. A leitura me leva a outras realidades e contribuiu para que eu consiga analisar melhor a realidade que estamos.”
A convivência intensa com a mulher é outro ponto alto do confinamento.