Terça-feira, 10 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 1 de junho de 2021
Pela primeira vez desde 7 março de 2020, quatro dias antes de a covid-19 ser oficialmente declarada uma pandemia, o Reino Unido não registrou novas mortes diárias causadas pela doença. Palco de uma das campanhas de vacinação mais aceleradas do planeta, contudo, o país vê com preocupação a disseminação de novas variantes que ameaçam atrasar seu cronograma de desconfinamento após a média de novos casos aumentar 84% em uma semana.
Segundo as autoridades britânicas, nenhuma pessoa que testou positivo para o coronavírus nos últimos 28 dias morreu entre segunda (31) e esta terça-feira (1º). Houve, contudo, um feriado nacional no país, fator que habitualmente se traduz em subnotificação de casos e mortes diárias, já que os hospitais e centros de contagem trabalham com equipes reduzidas.
Os dados oficiais do governo britânico mostram que também não houve mortes registradas em 30 de julho do ano passado, mas 10 óbitos foram contabilizados retroativamente. Segundo o jornal Telegraph, a confusão deveu-se a um descompasso nos sistemas de registro e contabilização.
Parte da queda das mortes deve-se à vacinação acelerada: de acordo com o Ministério da Saúde britânico, 74,9% dos adultos do país já receberam ao menos a primeira dose contra a covid-19 e 48,9% receberam as duas.
O secretário de Saúde, Matt Hancock, disse que o país inteiro deveria ficar “muito orgulhoso” das notícias desta terça-feira, mas ressaltou que é necessário cautela:
“As vacinas estão claramente funcionando, te protegendo, protegendo quem está ao seu redor e quem você ama”, disse em seu Twitter. “No entanto, apesar da notícia indubitavelmente boa, nós ainda não derrotamos o vírus. E, com os casos que continuam a subir, por favor lembrem de [lavar as] mãos, [não encostar no] rosto, manter o distanciamento e de deixar o ar fresco circular em espaços fechados. E, claro, de tomar as duas vacinas.”
Como citou o secretário, a média móvel de novos casos no país aumentou preocupantes 84% na última semana, passando de pouco mais de 1,7 mil no dia 24 de maio para 3,2 mil no dia 31. Os números permanecem distantes do pico de 70 mil diagnósticos diários que o Reino Unido chegou a contabilizar em janeiro, mas ainda assim acendem o sinal amarelo.
Até o momento, os surtos estão concentrados no Noroeste britânico, onde a variante Delta (anteriormente conhecida como B.1.617.2), registrada pela primeira vez na Índia, já circulava há algumas semanas. A alta de casos e internações em outras partes do país, incluindo Londres e a Escócia, contudo, aponta para o aumento do contágio em nível nacional.
Na semana passada, Hancock disse que “possivelmente até três quartos” dos novos diagnósticos no país são causados pela cepa indiana, mais contagiosa. O temor da mutação fez a França reimpor uma quarentena obrigatória para os viajantes que chegam do Reino Unido, enquanto a Alemanha e a Áustria baniram a entrada de pessoas vindas do país. A Suíça pôs o país na sua lista de alto risco.
Reabertura em xeque
Especialistas defendem que o governo atrase o cronograma de desconfinamento britânico, cuja etapa final está prevista para 21 de junho, com o fim de todas as restrições de mobilidade, reunião e ocupação de espaços públicos. Na semana passada, o premier Boris Johnson disse não ver indicativos de que seria necessário postergar a data, mas reconheceu que isso talvez seja necessário. Hancock, por sua vez, disse que a reabertura só ocorrerá ser “for seguro”.
“Um fim prematuro de todas as restrições que resultasse em um aumento das infecções prejudicaria os esforços do nosso sistema de saúde”, disse à Sky News o diretor do conselho da Associação Médica Britânica, Chaand Nagpaul, chamando o momento de “crucial”.
Apesar do aumento dos casos, o Reino Unido não deverá enfrentar uma nova onda tão letal quanto as anteriores. Segundo pesquisas preliminares, as vacinas aplicadas no país são eficazes contra a cepa Delta: as duas doses da Pfizer garantem 88% de proteção contra casos sintomáticos e as da AstraZeneca, 60%. A eficácia da primeira dose, no entanto, fica ao redor de 33%, segundo um estudo publicado pelas autoridades sanitárias britânicas.
Os novos casos são impulsionados pela população jovem que ainda não tomou as duas doses e que tem menos riscos de desenvolver casos graves. Segundo Hancock, apenas uma em cada 10 pessoas internadas em áreas onde há surto da doença foi completamente vacinada.
Atualmente, apenas pessoas com mais de 30 anos que não façam parte de grupos de risco podem se vacinar na Inglaterra e na Escócia. Na Irlanda do Norte e em partes do País de Gales, todos os adultos já são englobados pela campanha.