Segunda-feira, 03 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de março de 2022
O encarregado de negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, defendeu nesta quarta-feira (2) que o Brasil corte laços comerciais com a Rússia. Caso o governo não faça isso, Tkach sugeriu que as empresas brasileiras podem se retirar do país, como companhias de outros países vem fazendo.
“Nós gostaríamos (de) uma maior pressão sobre a Rússia. Nós apelamos (para) cortar todos os laços comerciais com a Rússia para pressionar. As empresas internacionais já estão cortando essa cooperação como Apple, Netflix”, disse o diplomata, em entrevista coletiva em Brasília.
Questionado se estava defendendo que o Brasil rompesse as relações comerciais, Tkach confirmou:
“Sim. Se não for a nível estatal, que seja a nível das empresas, da cooperação das empresas.”
Entre as empresas que limitaram, suspenderam ou encerraram atividades comerciais com a Rússia estão Apple, BP, Boeing, Exxon, Harley-Davidson, Mastercard, Shell e Visa.
Tkach, que atualmente é o chefe da embaixada ucraniana no Brasil, foi perguntado também sobre a alegação do governo brasileiro de que depende da importação de fertilizantes da Rússia, e respondeu que todos os países que impõem sanções também têm perdas econômicas.
“Eu entendo é que cada nosso parceiro no mundo impondo as sanções contra a Rússia, cada um está pagando um preço. Cada um está sofrendo perdas econômicas. Mas essas perdas econômicas, os países estão sofrendo para garantir a estabilidade do sistema de segurança mundial.”
Impactos econômicos no Brasil
A invasão da Ucrânia por tropas russas pode produzir impactos econômicos a mais de 10 mil quilômetros de distância. O Brasil pode sentir os efeitos do conflito por meio de pelo menos três canais: combustíveis, alimentos e câmbio. A instabilidade no Leste europeu pode não apenas impactar a inflação como pode resultar em aumentos adicionais nos juros, comprometendo o crescimento econômico para este ano ao reduzir o espaço para a melhoria dos preços e do consumo.
Segundo a pesquisa Sondagem da América Latina, divulgada nesta semana pela Fundação Getulio Vargas (FGV), as turbulências na Ucrânia devem agravar as incertezas que pairam sobre a economia global nos últimos meses. No Brasil, os impactos deverão ser ainda mais intensos. Uma das razões é a exposição maior aos fluxos financeiros globais que o restante da América Latina, com o dólar subindo e a bolsa caindo mais que na média do continente.
A própria pesquisa, que ouviu 160 especialistas em 15 países, constatou a deterioração do clima econômico. Na média da América Latina, o Índice de Clima Econômico caiu 1,6 ponto entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre deste ano, de 80,6 para 79 pontos. No Brasil, o indicador recuou 2,8 pontos, de 63,4 para 60,6 pontos, e apresentou a menor pontuação entre os países pesquisados.
Grande parte da queda atual deve-se ao Índice de Situação Atual, um dos componentes do indicador, que reflete o acirramento das tensões internacionais e o encarecimento do petróleo no início de 2022. O outro componente, o Índice de Expectativas, continuou crescendo, tanto no continente como no Brasil, mas a própria FGV adverte que o indicador que projeta o futuro também pode deteriorar-se caso o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongue. As informações são do jornal O Globo e da Agência Brasil.