Domingo, 22 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 22 de junho de 2025
O Irã respondeu com fúria aos ataques aéreos dos Estados Unidos durante a noite contra três de seus sites nucleares, prometendo o que chamou de “consequências eternas”. Mas, além das palavras, há discussões febris ocorrendo nos níveis mais altos do aparato de segurança e inteligência do Irã.
A pergunta que surge agora é se o país irá escalar o conflito retaliando contra interesses dos EUA ou, como pediu o presidente norte-americano Donald Trump, negociar — o que, na prática, significa desistir de todo o enriquecimento de urânio dentro do Irã.
Esse debate interno acontece em um momento em que muitos comandantes iranianos de alto escalão estão olhando por cima do ombro, se perguntando se serão o próximo alvo de um ataque aéreo de precisão de Israel — ou se alguém na sala já os traiu para o Mossad, a agência de inteligência exterior de Israel.
De forma geral, há três caminhos estratégicos possíveis agora para o Irã. Nenhum deles é isento de riscos, e o principal fator considerado por quem toma as decisões é a sobrevivência do regime da República Islâmica.
Força e rapidez
Muitos estão clamando por vingança. O Irã foi humilhado — primeiro por Israel, agora pelos Estados Unidos, a quem frequentemente se refere como “o Grande Satã”.
A troca de mísseis entre Irã e Israel já dura dez dias, mas retaliar contra os EUA representa um novo nível de risco — não só para o Irã, mas para toda a região.
Estima-se que o Irã ainda detenha cerca da metade de seu estoque original de aproximadamente 3 mil mísseis, tendo usado e perdido o restante nos embates com Israel.
O Irã tem uma lista de cerca de 20 bases dos EUA como alvos potenciais em todo o Oriente Médio.
Um dos mais próximos — e mais óbvios — é o vasto quartel-general da poderosa 5ª Frota da Marinha dos EUA, localizado em Mina Salman, no Bahrein. Mas o Irã pode hesitar em atacar um Estado árabe vizinho do Golfo. Mais provável seria recorrer a seus aliados no Iraque e na Síria para atacar bases americanas relativamente isoladas, como At-Tanf, Ain al-Asad ou Erbil — algo que já fez antes.
O Irã também poderia lançar “ataques em enxame” contra navios de guerra da Marinha dos EUA, usando drones e lanchas rápidas com torpedos — algo que a Marinha da Guarda Revolucionária pratica há anos.
Se optar por essa via, o objetivo seria sobrecarregar as defesas navais dos EUA pelo volume de ataques. O Irã também poderia acionar seus aliados no Iêmen, os houthis, para retomar os ataques a navios ocidentais que cruzam o trecho entre o oceano Índico e o mar Vermelho.
Alvos econômicos
Há ainda alvos econômicos que o Irã poderia atingir — mas isso colocaria em risco a frágil convivência que o país alcançou com seus vizinhos do Golfo.
O alvo mais grande e mais sensível nesse campo seria o Estreito de Ormuz, por onde passam diariamente mais de 20% dos suprimentos globais de petróleo. O Irã poderia minar o estreito com explosivos marítimos, criando um perigo mortal para embarcações civis e militares.
Outro caminho possível é o ciberespaço. Irã, ao lado de Coreia do Norte, Rússia e China, possui uma capacidade sofisticada de ataques cibernéticos. Inserir malware destrutivo em redes ou empresas americanas certamente está entre as opções em avaliação.
Revidar mais tarde
Essa opção envolveria esperar até que a tensão atual diminuísse e lançar um ataque surpresa no momento escolhido pelo Irã — quando as bases dos EUA não estivessem mais em alerta máximo.
Esse ataque poderia atingir missões diplomáticas, consulares ou comerciais dos EUA, ou ainda envolver o assassinato de indivíduos.
O risco aqui, claro, é que tal ação provocaria novos ataques dos EUA justamente quando a população iraniana começasse a retomar a normalidade.
Não retaliar
Essa seria uma atitude de grande contenção por parte do Irã, mas evitaria novos ataques dos EUA. O país poderia inclusive optar pela via diplomática e retomar as negociações com os americanos — embora o chanceler iraniano tenha afirmado que o Irã nunca abandonou essas negociações, e que foram Israel e os EUA que as destruíram.
Mas retomar o diálogo com os EUA em Muscat, Roma ou outro local só faria sentido se o Irã estivesse disposto a aceitar a exigência básica imposta por EUA e Israel: para manter um programa nuclear civil, o Irã deve enviar todo o urânio ao exterior para enriquecimento.
Não fazer nada após sofrer um ataque de tal magnitude também faria o regime iraniano parecer fraco — especialmente depois de ter ameaçado com severas consequências caso os EUA atacassem.
No fim, o regime pode decidir que o risco de enfraquecer seu controle sobre a população supera o custo de sofrer novos ataques americanos.