Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de março de 2020
É VIP o circuito que conta a chegada do coronavírus ao Brasil por meio de viajantes a bordo de jatinhos ou em voos internacionais de primeira classe ou executiva. A disseminação da Covid-19 em terras brasileiras passa por eventos sociais em points do litoral baiano, como Trancoso e Itacaré, e no tradicional Country Club do Rio de Janeiro.
“O vírus foi trazido por uma elite viajada, veio de fora e se propagou muito rápido em nossos círculos”, diz uma sócia do clube, que pede para não ser identificada.
Um deles foi o noivado do príncipe dom Pedro Alberto de Orleans e Bragança, 31, e Alessandra Fragoso Pires, 26, na casa dos pais do noivo, na Gávea, para 70 seletos convidados, em 7 de março.
O mapa da pandemia da Covid-19 estava bem representado no almoço que reuniu membros da família imperial, recém-chegados da Europa, como os próprios pais do noivo.
Naquele mesmo sábado, Marcella Minelli e Marcelo Bezerra de Menezes faziam uma festa de casamento de sonhos no Txai Resort, no litoral Sul da Bahia.
Entre as centenas de convidados estava uma galera animada que acabara de voltar de temporada de esqui em Aspen e de viagens no carnaval para a Europa, já em alerta máximo pela explosão de casos e mortes na Itália.
Circuito fluminense
O coronavírus foi se espraiando desde o chamado circuito Elizabeth Arden (Paris, Milão, Londres e Nova York) até Miguel Pereira, a 100 km da capital fluminense, município que entra no mapa pela porta de serviço.
Deu no The New York Times a morte da empregada doméstica Cleonice Gonçalves, 63, na terça-feira (17), primeiro óbito oficial pela Covid-19 no Estado do Rio. A funcionária fora contaminada pela patroa, moradora do Leblon, que passara férias na Itália.
Em Niterói, poucas horas depois de a doméstica entrar para as estatísticas, desenrolava-se um drama desencadeado por um contágio em família.
Às 19h08, o advogado Paulo Figueiredo, 69, morria no Hospital Icaraí, onde dera entrada com um quadro gripal preocupante por ser hipertenso e diabético.
Segundo o boletim médico, “o paciente possuía história epidemiológica para o Covid-19”. Ele e a mulher tinham ido buscar o enteado no aeroporto do Galeão, que vinha de Nova York com teste positivo para coronavírus.
Do outro lado da ponte Rio-Niterói, morria na segunda-feira (23) a socialite Mirna Bandeira de Mello, às vésperas de completar 72 anos, primeira vítima do grupo de convidados do noivado do príncipe.
Tia do noivo, a apresentadora Márcia Peltier usou as redes sociais para anunciar que seu teste para a Covid-19 também era positivo.
A curva de infectados no Rio se expandia na mesma velocidade que os casos do Country Club iam aumentando, após uma assembleia com 270 dos 850 associados, em 9 de março.
Conexão Itacaré-São Paulo
Nas paradisíacas Maldivas, Marcella e Marcelo, passam a lua de mel literalmente trancafiados no romântico bangalô de hotel, em rigoroso esquema de quarentena imposto pelas autoridades sanitárias local.
Passavam por avaliação médica à distância e tinham a temperatura medida diariamente. Ainda que assintomáticos, o isolamento imposto foi completo até o 14º dia: eles mesmos trocavam as roupas de cama e faziam refeições isolados.
“Estamos 14 dias dentro do quarto, de quarentena, como todos deveriam ficar também”, declarou a noiva, em vídeo, após avalanche de mensagens ofensivas no Instagram.
As bodas se converteram em outro epicentro da pandemia no País, à medida em que eram divulgados testes positivos da cantora Preta Gil, contratada para fazer o show da festa, da atriz Fernanda Paes Lemes e da blogueira Gabriela Pugliesi, irmã da noiva.
Longe do escrutínio público, outros convidados foram fazendo exames ao retornarem a São Paulo, numa lista de pelo menos 15 casos suspeitos de contágio após compartilhamento de drinks, beijos e abraços na festança.
“Muita gente ficou na moita e deixou na conta do casamento, mas vários infectados tinham acabado de voltar de viagens à Europa e aos Estados Unidos”, diz uma promoter paulistana.
Escala Porto Seguro-Fortaleza
De Itacaré, a linha de contágio chegou a Trancoso, outro reduto frequentado por endinheirados.
Foi para lá que o empresário cearense Cláudio Henrique Vieira do Vale, conterrâneo da família do noivo, embarcou em seu jatinho com um grupo de oito amigos para curtir um fim de semana prolongado na casa de veraneio em um condomínio de luxo.
O programa, depois da festa em Itacaré e com uma escala em São Paulo, virou caso de polícia. A Delegacia de Proteção ao Turista de Porto Seguro instaurou inquérito para apurar a denúncia de que o presidente da CVPAR Finanças desrespeitou a quarentena, quando já havia recebido resultado positivo do teste.
O empresário e a mulher estão cumprindo a determinação de distanciamento social e permanecem na cidade.