Domingo, 28 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de outubro de 2022
O ex-deputado federal Roberto Jefferson, aliado próximo do presidente Jair Bolsonaro, reagiu com tiros de fuzil e granadas a uma ordem de prisão decretada pelo Supremo Tribunal Fedral porque o ex-deputado insistia em desrespeitar as condições impostas para que ficasse em prisão domicilar.
A equipe da Polícia Federal chegou à cidade de Comendador Levy Gasparian, interior do estado do Rio, por volta das 11h da manhã. O circuito de câmeras da casa de Roberto Jefferson registrou a presença deles no portão. Os policiais federais foram cumprir a decisão do STF que neste domingo (23) revogou o benefício de prisão domiciliar do ex-deputado, determinando que ele fosse novamente levado a um estabelecimento prisional.
Jefferson cumpria prisão domiciliar, determinada no inquérito sobre uma organização criminosa que atenta contra o Estado Democrático de Direito. Ele descumpriu várias medidas da prisão domiciliar, como passar orientações a dirigentes do PTB, receber visitas, conceder entrevista e compartilhar fake news que atingem a honra e a segurança do STF e seus ministros, como ao ofender a ministra Cármem Lúcia. Por causa de todos estes descumprimentos, o ministro Alexandre de Moraes revogou a prisão domiciliar e determinou sua volta à prisão.
Resistência
Roberto Jefferson resistiu à ordem de prisão disparando contra os agentes. Nas imagens, é possível ver o para-brisa do carro da Polícia Federal já atingido e o ex-deputado disse que ele mesmo foi o autor dos tiros.
A Polícia Federal informou que os agentes não deram nenhum tiro e que a reação de Roberto Jefferson veio depois de ouvir a ordem de prisão. Fotos da PF mostram uma grande quantidade de perfurações no carro, revelando a violência do atentado contra os policiais. Momentos depois do lado de fora da casa, Roberto Jefferson confirma que atirou.
Granadas
Além dos tiros, a Polícia Federal informou que o ex-deputado lançou três granadas. Dois policiais ficaram feridos pelos estilhaços da explosão. O delegado Marcelo Vilela foi atingido no peito e no pescoço. A agente Karina Lino de Miranda também sofreu ferimentos em várias partes do corpo.
Depois dos ataques, a Polícia Federal recebeu reforços, mas permaneceu ao longo de toda a tarde diante do portão, sem entrar na casa de Roberto Jefferson.
Agentes do batalhão de operações especiais da Polícia Militar do Rio também foram ao local. Enquanto os policiais estavam no portão, quem entrou na casa foi padre Kelmon, que substituiu Roberto Jefferson na eleição presidencial. Imagens nas redes sociais mostram padre Kelmon passando pelo portão uma arma que teria sido usada por Jefferson no ataque.
Novos crimes
O advogado Gustavo Sampaio, professor de Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense, afirma que, além do motivo original da prisão, Roberto Jefferson cometeu novos crimes.
“A depender do que se comprovar na perícia, que há de ser feita em torno disso, nós poderemos ter caracterizada a tentativa de homicídio de dois agentes policiais no cumprimento de uma determinação judicial”.
Gustavo Sampaio ressalta o absurdo de que alguém em prisão domiciliar tenha armas à disposição.
“Esse comportamento reiterado contra o Estado Democrático de Direito é um comportamento que revela um nível avançado de subversão à ordem constitucional e a maneira que imediatamente o Supremo Tribunal Federal determina em torno do ex-parlamentar ao cárcere na prisão preventiva por todas essas razões.”
No início da noite, em nova decisão, o ministro Alexandre de Moraes ressaltou que o ataque de Roberto Jefferson aos policiais pode configurar duplo crime de homicídio na forma tentada, encontrando-se o agente em estado de flagrância.
Alexandre de Moraes complementou em nota: “Diante de todo o exposto, independentemente do horário, determina a Polícia Federal que cumpra a ordem de prisão expedida é ou a prisão em flagrante delito. A intervenção de qualquer autoridade em sentido contrário para retardar ou deixar de praticar indevidamente o ato será considerada delito de prevaricação”.
Oito horas depois da chegada da polícia, por volta de 19h, Roberto Jefferson se entregou e foi levado para a superintendência da Polícia Federal.
Nota de repúdio
A Federação Nacional dos Policiais Federais divulgou uma nota de repúdio afirmando que a reação violenta contra policiais é um atentado ao próprio estado. A Associação dos Delegados da Polícia Federal também se manifestou, afirmando ser inaceitável qualquer tipo de violência contra policiais federais. Os delegados afirmam também que exigirão uma rigorosa punição ao responsável pelas agressões.