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Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2016
Imagens de geleiras se desprendendo e derretendo no mar se tornaram ícones do aquecimento global. Mas um novo estudo publicado na revista Nature Geoscience conclui que rompimentos de icebergs na Antártica, ironicamente, também ajudam a conter o avanço da temperatura do planeta.
O aparecimento de icebergs, cuja área pode chegar a 90 quilômetros quadrados, deve se tornar mais frequente nas próximas décadas devido às mudanças climáticas. Trata-se de um efeito direto do aquecimento. Porém, ao derreter, as geleiras lançam no Oceano Austral quantidades enormes de ferro e mais nutrientes que agem como verdadeiros fertilizantes para algas e outros organismos aquáticos microscópicos, os fitoplânctons.
Uma vez que esses organismos se proliferam, aumenta a capacidade do ecossistema de extrair dióxido de carbono da atmosfera. Este é o principal gás do efeito estufa. De acordo com o trabalho, o oceano floresce na esteira dos icebergs gigantes da Antártica, levando à absorção de 10 a 40 milhões de toneladas de carbono por ano.
Até agora, o impacto da fertilização dos oceanos com o derretimento de icebergs era considerado pequeno e localizado.
“Ficamos surpresos ao ver que este impacto pode se estender por uma área a até mil quilômetros de distância dos icebergs”, revela Grant Bigg, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, e autor da pesquisa.
Bigg estudou imagens de satélite de 17 icebergs gigantes da Antártica entre 2003 e 2013 e verificou que as algas podem esverdear as águas por até centenas de quilômetros em torno dos icebergs, com nutrientes espalhados pelos ventos e pelas correntes.
Existem 30 icebergs gigantes flutuando ao longo da Antártica, o que pode durar anos. Segundo o estudo, todos têm impacto desproporcional na fertilização do oceano, quando comparados aos pequenos icebergs. O autor do levantamento lembra que a taxa de emissões de gases-estufa causadas por atividades humanas aumenta 2% por ano. “Se não houvesse os icebergs gigantes, este índice chegaria a 2,1% ou 2,2% anuais”, assegura Bigg.
Pesquisador do Aquário de Monterey Bay, na Califórnia (EUA), Ken Smith acredita que as conclusões de Bigg são “convincentes”.
Os cientistas da Universidade de Sheffield também estimam que a quantidade de gelo que está se desprendendo na Antártica aumentou mais de 5% nas últimas duas décadas, sendo que a tendência é de crescimento dessa taxa no futuro. Este fenômeno poderia aumentar a fertilização do oceano.
O fenômeno, porém, não deve ser considerado como a salvação do planeta contra o aquecimento global. O rompimento dos icebergs não provoca um efeito suficientemente forte para conter a liberação de carbono para a atmosfera. O Oceano Austral emite cerca de dez gigatoneladas de carbono por ano, e só consegue capturar 0,2 gigatonelada.
Ainda assim, os icebergs estão exercendo uma tarefa defendida por cientistas conhecidos como “geoengenheiros”, que têm propostas controversas para o combate ao aquecimento. Eles querem, por exemplo, fertilizar os oceanos com ferro, já que o material estimula a fotossíntese, contribuindo para a multiplicação da flora e a consequente limpeza da atmosfera. (AG)