Quinta-feira, 04 de dezembro de 2025
Por Gisele Flores | 4 de dezembro de 2025
Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS), presidida por Ivonei Pioner,
Foto: O Sul
Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS), presidida por Ivonei Pioner, alerta para juros altos, enchentes e inadimplência e defende inovação, educação financeira e liderança renovada para superar crise.
Crescimento moderado e contrastes setoriais
Segundo dados do Instituto de Indicadores da FCDL-RS, em parceria com a Universidade de Caxias do Sul, o comércio gaúcho registrou alta de 7,4% em 2025. O resultado foi positivo, mas inferior aos anos de 2022 e 2024, considerados excepcionais.
O presidente da FCDL-RS, Ivonei Pioner, explicou que o primeiro trimestre ainda refletiu o bom momento anterior, mas a partir do segundo trimestre a economia enfrentou retração em segmentos como informática e eletrônicos, que haviam crescido 19% em 2024 e caíram 15% em 2025. O mesmo ocorreu com móveis, linha branca e construção civil, que sofreram retração após reposição de estoques perdidos nas enchentes. Em contrapartida, áreas ligadas a serviços e supermercados sustentaram parte do crescimento, mostrando resiliência em meio à crise.
Comparação regional
Enquanto o Rio Grande do Sul cresceu de forma mais contida, estados vizinhos avançaram acima da média nacional. O Paraná registrou expansão de 5,3% e Santa Catarina de 4,2% em 2025, impulsionados pela indústria e exportações. No RS, o PIB avançou apenas 1,3% no primeiro trimestre, com destaque para a agropecuária (+27,3%), mas o desempenho geral ficou aquém dos vizinhos.
Além disso, Pioner lembrou que o estado não recebe incentivos federais como royalties ou subsídios, diferentemente de outras regiões. “Tudo aqui depende 100% da iniciativa privada. Isso nos torna resilientes, mas também limita o ritmo de crescimento”, afirmou.
Endividamento e inadimplência
O presidente destacou que o estado foi duramente atingido pelo endividamento. Em outubro, houve alta de 10,4% nos registros negativos em relação ao mesmo mês de 2024. Apenas 18% das dívidas estão no comércio, enquanto a maioria está concentrada em bancos e instituições financeiras, especialmente em cartões de crédito e consignados, com juros considerados “impagáveis”.
Segundo Pioner, o modelo nacional de crescimento baseado em crédito sem educação financeira agravou a situação. “As pessoas absorvem crédito que não é poder de compra e, em algum momento, passam a ter dificuldade. No RS, isso foi intensificado pelas enchentes e pela necessidade de tomar crédito caro, sem subsídios”, disse.
Reforma tributária e fluxo de caixa
O presidente alertou para os efeitos da reforma tributária, que entrará em vigor em 2026. Um dos pontos mais críticos será a antecipação do pagamento de impostos na hora da compra, o que pode comprometer o fluxo de caixa das empresas mais fragilizadas. “Fez a compra, já paga o imposto. Isso impacta diretamente o regime de caixa de várias empresas”, explicou.
Outro ponto é a tributação sobre dividendos, que passará a incidir a partir de determinado valor. Para Pioner, será necessário rever práticas de mercado e estruturar melhor a gestão contábil e financeira.
Estrutura da federação
A FCDL-RS está presente em mais de 100 cidades, reúne cerca de 30 mil CNPJs associados e influencia diretamente a vida de pelo menos 150 mil pessoas. A entidade investe em programas como a CDLA Academy (formação em gestão e educação financeira), a CDLA Jovem (renovação de lideranças) e a CDLA Mulher, já com mais de 30 núcleos ativos, destacando o papel das mulheres, que hoje estão presentes em 51% dos CNPJs gaúchos.
Além disso, a federação atua em representação institucional por meio da área de RIG (Relações Institucionais e Governamentais), defendendo pautas estratégicas para o comércio.
Sucessão empresarial e inovação
Pioner destacou a preocupação com a sucessão empresarial, especialmente em pequenas empresas familiares. “Se não houver sucessão, o pequeno negócio desaparece. É preciso atualizar o modelo e atrair familiares para dar continuidade ao projeto”, disse.
Nesse sentido, a FCDL tem oferecido cursos e formações para apoiar a transição de segunda e terceira gerações, além de incentivar a profissionalização da gestão.
A aposta em inteligência artificial (IA) também foi reforçada. Para o presidente, a tecnologia já mudou as regras do jogo em todas as áreas, do atendimento ao financiamento, e será fundamental para reduzir custos e aumentar a assertividade nas decisões.
Perspectivas para 2026
O dirigente classificou o próximo ano como um “grande ponto de interrogação”, marcado pela reforma tributária e pelas eleições. “Na última eleição, os negócios ficaram parados por no mínimo seis meses porque não sabiam se iam para frente ou para trás. Houve travamento de investimentos”, lembrou.
Para Pioner, será fundamental que o ambiente político seja de construção e não de embate. “O que interessa para quem empreende é o resultado, é o bolso. A população precisa de vida digna, e quem produz riqueza quer viver bem”, concluiu. (por Gisele Flores)
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