Segunda-feira, 24 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de junho de 2020
“Agora vou expressar meu respeito a um lugar muito, muito especial”, afirmou o presidente americano Donald Trump, em um tom enigmático, ao encerrar seu primeiro discurso à nação, no fim da tarde de 1º de junho, após dias de protestos nacionais em repúdio ao assassinato de George Floyd, um homem negro de 46 anos, por um policial branco.
No discurso, Trump afirmou ser “o presidente da lei e da ordem” e anunciou o uso das forças armadas americanas contra manifestantes, embora tenha se intitulado amigo dos que protestavam pacificamente. Imediatamente antes de iniciar a fala, no jardim das rosas da Casa Branca, em Washington D.C., os militares haviam retirado à força manifestantes pacíficos da frente da residência presidencial.
Tão logo desceu do púlpito, Trump iniciou a pé um trajeto que acabou com o mistério de sua frase de encerramento ao discurso e também explicou a desproporção da violência usada para dispersar a multidão da área: Trump passou exatamente onde estavam os manifestantes para fazer uma fotografia, com uma bíblia na mão, em frente à igreja episcopal St. John, que no dia anterior tinha sofrido um início de incêndio durante protestos.
Com o ato, Trump pretendia mobiizar, a cinco meses das eleições, uma série de símbolos especialmente caros à sua base eleitoral, composta por uma maioria de homens, brancos e conservadores: a força para controlar sublevações que punham em risco elementos sagrados da identidade americana, como o templo conhecido como “igreja dos presidentes”, por ser o local onde todos os mandatários americanos rezaram ao menos uma vez.
A ida à igreja nessas circunstâncias era também um bom resumo da abordagem que o presidente adotou para tratar das manifestações que tomaram mais de 140 cidades americanas. Embora tenha expressado solidariedade com a família de Geroge Floyd, Trump chamou de “bandidos” aqueles que participaram de protestos que degringolaram para destruição e violência. E escreveu em sua conta de Twitter: “quando os saques começam, os disparos começam”, emprestando uma frase atribuída ao comandante da Polícia de Miami em 1967 sobre o modo como ele agia em relação ao movimento negro pelos direitos civis.
Aprovação em queda
Demorou pouco, no entanto, para a estratégia de Trump se mostrar uma ameaça aos planos de reeleição do presidente. De acordo com pesquisa do Instituto Gallup, divulgada em meio aos protestos, a aprovação de Trump despencou de 49%, em meados de maio, para 39% – um recuo de 10 pontos percentuais.
Mesmo em meio à pior pandemia desde a gripe espanhola do começo do século passado – que já ceifou a vida de mais de 115 mil pessoas nos Estados Unidos – e a uma recessão que levou a taxa de desemprego ao pico de 14,7%, com mais de 30 milhões de empregos perdidos, as taxas de aprovação de Trump não tinham sofrido um abalo tão forte quanto nas semanas dos protestos.
A avaliação negativa aumentou não só entre os eleitores democratas, grupo que se opõe a Trump, em que apenas 5% o aprovam, mas cresceu no reduto republicano, partido pelo qual Trump vai disputar a reeleição: nesse grupo, o recuo foi de 7 pontos percentuais, de 92% para 85%.
O descontentamento também atingiu os eleitores que se declaram independentes e que são cruciais na disputa presidencial em novembro, dada a polarização política americana e a expectativa de uma eleição apertada. Entre os que não se declaram nem republicanos, nem democratas, a aprovação a Trump caiu de 46% para 39%.
Na série histórica, o candidato democrata Joe Biden está na melhor posição para desafiar a posição do ocupante da Casa Branca desde a disputa de 1992, quando o então presidente republicano George H. W. Bush perdeu a tentativa de reeleição para o democrata Bill Clinton. Em junho de 1992, Bush tinha 37% de aprovação, segundo o mesmo Gallup.