Quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de janeiro de 2021
O bloqueio da conta do presidente americano, Donald Trump, no Twitter depois que seus apoiadores invadiram o Congresso dos EUA em 6 de janeiro foi comemorado por alguns e criticado por outros.
Entre os críticos da decisão estão principalmente os apoiadores do presidente dos EUA — mas os partidários de Trump não são os únicos a reclamar.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se referiu à medida como “problemática” por limitar “o direito fundamental à liberdade de expressão” — segundo ela, nenhuma companhia privada deveria ter um poder tão grande e é a legislação do país que deveria regular o funcionamento das redes sociais.
O ativista russo Alexei Navalny afirmou que o bloqueio foi “um ato de censura inaceitável”. A medida tem gerado preocupação entre alguns defensores da liberdade de expressão principalmente em países onde ela não é garantida.
“Obviamente o Twitter é uma empresa privada, mas vimos muitos exemplos na Rússia e na China de empresas privadas que se tornaram as melhores amigas do Estado e facilitadoras da censura”, explicou Navalny em sua postagem.
Para outros, porém, o mais preocupante é justamente que uma empresa privada conseguiu silenciar em parte o presidente dos EUA — muitas vezes considerado o homem mais poderoso do mundo — privando-o de seu megafone favorito. Trump utilizava muito o Twitter.
“O fato de um CEO poder desconectar o alto-falante do presidente dos Estados Unidos sem qualquer controle e equilíbrio é preocupante”, Thierry Breton, funcionário da União Europeia, em um artigo de opinião publicado no site Politico.
E até o ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, interveio no debate, alertando sobre os riscos das plataformas tecnológicas decidirem “quem deve e quem não deve ter voz”.
As referências a uma suposta censura e à liberdade de expressão também têm sido frequentes nas críticas dos partidários de Trump, que também foram objeto de medidas semelhantes em várias redes sociais.
O Twitter anunciou o fechamento de “mais de 70 mil contas” vinculadas ao QAnon, grupo de teoristas da conspiração que já antes da eleição também havia sido objeto de bloqueio no aplicativo e também no Facebook.
A rede social de Mark Zuckerberg também suspendeu temporariamente a conta de Trump, assim como o Instagram. O Snapchat, Twitch e o YouTube fizeram o mesmo.
O Facebook também disse que está removendo todo o conteúdo que menciona a frase “stop the steal” (parem o roubo, em inglês), o slogan associado às alegações – sem provas – de Trump de que a eleição presidencial de novembro passado foi fraudada.
A Amazon parou de fornecer serviços de hospedagem para carregar o aplicativo da rede social Parler, plataforma parecida com o Twitter que se tornou popular entre militantes de extrema direita e seguidores do presidente.
O futuro da Parler também está ameaçado pela decisão do Google e da Apple de parar de oferecer o aplicativo em suas lojas virtuais, bem como pela recusa de muitos outros provedores online em fornecer-lhes espaço de hospedagem.
“A liberdade de expressão morreu e está sob o controle dos grandes senhores da esquerda”, disse Donald Trump Jr, filho de Trump, acusando os donos bilionários das redes de serem “de esquerda”.
Mas, como lembra David Díaz-Jogeix, diretor de programas para a liberdade de expressão da ONG Artigo 19, mesmo nas sociedades democráticas mais avançadas a liberdade de expressão está sujeita a certos limites que Trump (e vários de seus seguidores) parecem ter ultrapassado.
Risco de violência
“Inicialmente, as mensagens foram eliminadas devido ao risco iminente e real de violência. Esse é o fator determinante”, disse Díaz-Jogeix, que acrescentou ser preciso levar em conta o imenso número de apoiadores de Trump e sua posição de influência.
“Nesse contexto, a eliminação desses tuítes faz sentido. E a suspensão da conta é grave, mas legítima, embora possa ser desproporcional. E digo ‘possa ser’ porque não sabemos se é uma suspensão permanente”, disse ele à BBC Mundo.
A potencial ameaça de violência também foi a justificativa usada pela Amazon Web Services (AWS) para explicar sua decisão de interromper o fornecimento de seus serviços à Parler.
“Está claro que há uma quantidade significativa de conteúdo na Parler que incentiva e incita a violência contra outras pessoas, e que a Parler não pode ou não deseja identificar e remover rapidamente esse conteúdo, o que é uma violação de nossos termos de serviço.” Amazon argumentou.
Parler, que anunciou um processo contra a Amazon, sustenta, por sua vez, que os verdadeiros motivos seriam “animosidade política” e “reduzir a concorrência no mercado de serviços de microblog em benefício do Twitter”.