Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 15 de janeiro de 2021
Uma semana após manifestação que desaguou na invasão do Capitólio — e no dia em que a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou novo processo de impeachment contra Donald Trump por ‘incitação à insurreição’ — apoiadores do republicano que participaram do ato do dia 6 de janeiro em Washington D.C. se dizem “envergonhados” e “decepcionados”com o desfecho do ato e os desdobramentos políticos dele.
À BBC News Brasil três manifestantes revisitaram suas memórias daquela tarde e arriscaram explicações — parte delas baseadas em teorias da conspiração — para o desfecho do ato: cinco mortes e o Congresso depredado, com parlamentares evacuados depois de terem sido forçados a interromper a sessão que ratificaria Joe Biden como presidente eleito do país.
Os entrevistados dizem ter participado do ato porque se sentem ignorados pelas instituições americanas nas alegações de fraude eleitoral — que o presidente Trump falhou sistematicamente em provar em oito Estados — e que a frustração e a raiva levaram parte do grupo às cenas de violência. Afirma ainda que grupos de esquerda se infiltraram no movimento para incitá-los a invadir o Congresso, acusação refutada inclusive por congressistas republicanos. E se dividem sobre as responsabilidades de Trump na ação, que se tornaram foco do processo de impeachment.
“Tudo o que foi feito naquele dia era necessário, menos invadir o Capitólio”, afirma o empresário Chad Kulchesky, de 32 anos, que se juntou à massa naquela manhã acompanhado da mulher e dos sogros. De Delaware, ele trouxera consigo uma bandeira de Trump estilizado como o personagem de ação Rambo, uma mochila com água e lanches e uma faquinha de bolso.
Naquele dia, ele havia afirmado à BBC News Brasil que “não vamos ficar parados enquanto tomam o país da gente”. Duas horas depois de ter dito isso, Kulchesky calcula que estivesse a cerca de 10 metros da escadaria do Capitólio quando bombas de gás lacrimogêneo começaram a estourar.
“Nessa hora entendi que algo tinha saído errado”, diz Kulchesky, que nega ter entrado no prédio.
“Eu estava lá para protestar pacificamente e eu definitivamente diria que sou contra qualquer pessoa subir lá e invadir (o Congresso). Porque era completamente o oposto do que, você sabe, 99,9% de nós acreditávamos. Eu sei que gente pró-Trump estava envolvida nisso. E estou envergonhado por isso, mesmo que você entenda a raiva que sentimos, porque realmente sentimos que fomos privados de direitos”, afirmou Joe*, da Virgínia, que na entrevista à BBC no dia 6 se disse “preparado para violência”, apontando para uma barra de ferro.
Agora, Joe pediu para não ter seu nome real incluído no texto por temor de “viralizar”, como aconteceu com outros participantes da manifestação, como Jacob Anthony Chansley, que irrompeu no Congresso usando trajes de viking.
Mas a fama indesejada na internet não é a única preocupação dele. Embora todos os entrevistados digam que não se envolveram em violência nem entraram no prédio do Congresso, eles ainda podem ser investigados ou mesmo presos. E ao menos um deles afirmou que participará de atos pró-Trump em Washington D.C. no dia 20, quando Biden tomará posse. A cidade prepara forte esquema de segurança para os próximos dias enquanto apura responsabilidades pelos atos do dia 6.
Na terça-feira (12), o FBI informou que mais de 70 pessoas já foram formalmente acusadas pelo ataque ao Capitólio. Os investigadores abriram até agora 170 casos relacionados ao motim e trabalham na análise de cerca de cem mil arquivos de mídia digital na tentativa de identificar criminosos e testemunhas dos fatos de 6 de janeiro. “Isso é apenas o começo, e não o fim”, disse o procurador-geral interino do Distrito de Columbia, Michael Sherwin, que disse esperar processar e prender centenas de pessoas.
É que as investigações até agora mostram que as ações no Capitólio não foram um ato de momento. Isso pode ter sido o caso para alguns, mas a apuração dos fatos mostra que grupos organizaram a invasão de antemão.