Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
20°
Mostly Cloudy

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Saúde Saiba como ter equilíbrio emocional

Compartilhe esta notícia:

Cansaço, pressão e medo ainda ameaçam saúde mental, quase um ano depois da pandemia. (Foto: Reprodução)

Há dez meses trabalhando na linha de frente contra o coronavírus, o médico intensivista Miguel Rogério de Melo perdeu as contas do número de pessoas que viu morrer por causa da doença. “Trabalhar em UTI-covid não é como trabalhar numa UTI comum. A falta de recursos e de material deixa tudo muito desgastante. Em vários momentos da pandemia faltam coisas básicas. E não estou falando nem de aparelhos caros. Faltaram sedativos e até medicações para manter a pressão arterial do paciente em níveis vitais”, relata o profissional de saúde, que trabalha atualmente na cidade de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, mas esteve em diversos hospitais do Estado.

Como o Brasil não tem mão de obra suficiente para atuar em Unidades de Terapia Intensiva com essa especialização, Miguel se viu obrigado a continuar trabalhando, mesmo diante de tanto estresse. “Por vezes até pensei em desistir porque não estava vendo resultado. Mas continuei, senão seria pior. Como a demanda de pacientes estava alta e, como a UTI-covid precisa de mão de obra específica, acabei ficando mesmo sem materiais básicos para tratar os doentes. Eu ia trabalhar e saia destruído do hospital. Uma situação desesperadora”, desabafa.

Em setembro, quando o número de casos estava aparentemente controlado, o médico intensivista foi ficando mais tranquilo. Porém, com as festas de fim de ano e as férias, momentos em que muita gente decidiu promover aglomerações, e o recrudescimento da doença, as coisas voltaram a piorar.

Na análise do psicanalista Gustavo Alarcão, integrante do Núcleo de Psicanálise do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq-HC), vivemos uma dose enorme de frustração, que requer paciência e muita tolerância: “O prolongamento da situação implica na manutenção das dificuldades que passam a pesar cada vez mais. Qual o fim? Que fim? Qual o significado de tudo isso? Como se adaptar mais e mais? São questões que rondam permanentemente”.

Mesmo sem estarmos na linha de frente contra a covid-19, cada um de nós jamais imaginou que, a essa altura do campeonato, ainda estaríamos em sérios riscos. Em quase um ano de pandemia, o Brasil chegou a 250 mil mortes, na pior fase da doença em território nacional. Difícil manter o otimismo diante dos números.

Mais ainda desafiador é manter o equilíbrio emocional. Esgotamento mental é o termo mencionado pela professora Luciana Aparecida de Moraes Correa. Ela trabalha em uma escola do município de Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais. Em 2020, os educadores da cidade começaram as aulas em maio e foram até o fim do ano. Depois de férias de 30 dias, Luciana voltou ao trabalho. “E já estou super preocupada. Em dezembro, eu estava simplesmente um bagaço. Nesse ano, que já começamos desde fevereiro, estou preocupada em como ficarei até julho. O governo liberou as aulas presenciais, mas ninguém mandou voltar porque não dá, o número de casos está aumentando. Além disso, não tem todos os EPIs (equipamentos de proteção) para os professores, os alunos. Como vai ser o distanciamento ou o revezamento das crianças? Tem tantas questões que estão sendo levantadas e que geram ansiedade”, diz.

A neuropsiquiatra Gesika Amorim relata que houve um aumento considerável dos casos de transtornos de ansiedade e do sono desde o início da pandemia. “Tivemos também muitos casos de depressão que acabaram evoluindo para transtornos mais graves, como Transtornos do Pânico, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e transtornos psicóticos. Sem falar do aumento do consumo de álcool e outras drogas. Este é o panorama que estamos vendo neste momento”, avalia.

A professora relata sintomas como irritabilidade, cansaço e problemas no intestino por não conseguir se alimentar adequadamente. Como se não bastasse toda a situação, Luciana e demais educadores no Brasil estão sendo criticados na internet por pessoas que alegam que “os professores ficaram um ano sem trabalhar” ou que “no lugar de dar aulas, estão viajando”. São publicações que normalmente generalizam comportamentos.

Esgotamento mental e seus efeitos

Nós estamos exaustos diante da pandemia de covid-19 porque passamos do limite da nossa capacidade de adaptação, para a neuropsiquiatra Gesika Amorim: “Difícil alcançar a resiliência. Fomos sacados da nossa estabilidade emocional de uma forma abrupta e ainda não a resgatamos. Continuamos tendo de nos adaptar às diferentes adversidades a cada dia”.

A velocidade das notícias e as constantes mudanças no quadro geral da doença fazem com que as pessoas se esforcem em busca de sobrevivência. E essa pressão pode nos levar a um alto nível de estresse, um quadro de esgotamento psíquico e físico, inclusive com casos de hipertensão arterial, diabete, agravamento de doenças crônicas.

O psicanalista Gustavo Alarcão lembra que muitos não puderam manter o isolamento social e precisaram se arriscar. “Ao mesmo tempo, aqueles que conseguiram ficar em casa estão se exaurindo. Acabam as ideias, a criatividade, sobrevém tristeza e também raiva diante das impotências e dos limites”.

O especialista dá um exemplo prático sobre a sensação de exaustão. “Faça um teste simples: tente segurar um peso qualquer nas mãos. Você verá que será insustentável. Fisicamente, nossos limites são mais claros, quando o músculo se exaure, o peso cai. Psicologicamente, eles não são tão nítidos”.

Dicas para cuidar da saúde mental em meio à pandemia

Gustavo Alarcão ressalta que, se você chegou ao limite, deve assumir, encarar e se respeitar: “Não há mágica que consiga me fazer ir além. É importante dar um passo atrás, dividir e compartilhar os pesos e recuperar o significado da vida, se possível for. Outras vezes precisamos nos reconfigurar. Temos dificuldade em aceitar nossas fragilidades, carências e necessidades. Gostamos mais de nos desafiar, de bater metas e recordes. Muitas vezes o esgotamento vem de uma negação da própria realidade, literalmente falando. Não somos máquinas e não basta acionar botões e pronto”.

Gesika Amorim dá algumas dicas práticas para manter o equilíbrio, como assistir algo que te dê prazer, ter bons momentos com amigos e família, e usar a internet para consumir cultura. “Manter uma boa alimentação, atividade física, meditação, oração, reiki, qualquer atividade relaxante ou hobby que te faça desacelerar. É necessário se auto regular e, principalmente, nunca ter vergonha de pedir ajuda. Ao menor sinal de necessidade, procure um médico e psicoterapia. Busque um psicólogo, um grupo de apoio e o mais importante: precocemente”.

tags: Você Viu?

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Saúde

A vacina da AstraZeneca é adequada contra a variante brasileira do coronavírus
A Organização Mundial da Saúde pede que o Brasil leve a pandemia a sério: “O quadro é muito, muito preocupante”
https://www.osul.com.br/saiba-como-ter-equilibrio-emocional/ Saiba como ter equilíbrio emocional 2021-03-05
Deixe seu comentário
Pode te interessar