Por Redação O Sul | 26 de abril de 2018
Quando a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) retirou do juiz federal Sergio Moro alguns trechos de delações premiadas Odebrecht com relatos que incriminam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerou que os fatos ali narrados não têm relação com o esquema de corrupção na Petrobras.
Com base nessa constatação, os membros do colegiado decidiram que tais informações prestadas pelos executivos da empreiteira não devem ficar no braço paranaense da Operação Lava-Jato e sim na Justiça Federal em São Paulo. Veja, a seguir, alguns desses relatos.
Léo Pinheiro
Segundo Léo Pinheiro, Lula pediu a ele que cuidasse da reforma de “seu” sítio em Atibaia (SP). A propriedade, no entanto, está registrada em nome de um sócio de Fábio Luís da Silva, filho do ex-presidente.
Emílio Odebrecht
O atual patriarca do grupo que leva o sobrenome de sua família relatou que o pedido para que a Odebrecht assumisse as obras no sítio foi feito ao executivo Alexandrino Alencar pela ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que pretendia fazer uma “surpresa” ao marido quando ele deixasse a Presidência da República, no final de 2010.
As reformas na propriedade já estavam em curso, mas, conforme o empresário, Marisa estava preocupada com a lentidão da obra. A conversa entre Alexandrino e ela aconteceu, segundo Emílio, durante uma festa de aniversário do líder petista naquele ano.
Apesar do pedido da primeira-dama, Emílio teria comentado o assunto com o então presidente em uma reunião no Palácio do Planalto, no penúltimo dia de seu mandato. “Ele não fez nenhum comentário, mas também não botou nenhuma surpresa, eu entendi já não ser mais surpresa, ele já estava sabendo”, contou o delator.
Alexandrino Alencar
O executivo também confirmou ter recebido o pedido de Marisa Letícia para que a empreiteira assumisse as obras no sítio, pois ela entendia que as obras tocadas por uma equipe contratada pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, estavam lentas.
Ele contou que a empreiteira adotou procedimentos para não deixar rastros de que havia executado a obra do sítio para Lula: “Em função da sensibilidade do processo, nenhum dos nossos funcionários usou macacão da Odebrecht e as compras de materiais foram feitas na região, todas com dinheiro-vivo”.
Marcelo Odebrecht
Filho de Emílio e presidente do grupo na época, Marcelo Odebrecht (que ficou preso de junho de 2015 a dezembro do ano passado pela Lava-Jato) relatou que, no final de 2010, combinou com o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci que “reservaria” R$ 35 milhões da conta de propinas que mantinha com ele e deixaria o valor à disposição do “projeto político” de Lula após a Presidência.
Nesse mesmo ano, ele disse que foi procurado pelo pecuarista José Carlos Bumlai e pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que lhe consultaram sobre a possibilidade de a Odebrecht comprar um terreno onde seria construída a sede do instituto que leva o nome do ex-presidente, em São Paulo.
Segundo o empreiteiro, a compra do terreno, por 12,4 milhões de reais, foi feita primeiramente pela DAG Construtora, de Demerval Gusmão, um amigo seu de longa data. O ex-presidente, no entanto, vetou a construção do instituto no local e o imóvel foi descartado. Conforme Marcelo Odebrecht, a Odebrecht Realizações Imobiliárias comprou o terreno da DAG para ressarci-la e, quando o vendeu, o valor voltou à conta de propinas destinada ao “projeto político” de Lula.
