Quinta-feira, 06 de março de 2025
Por Redação O Sul | 27 de janeiro de 2025
Entrar para o círculo de confiança do americano exigiu esforços de Infantino.
Foto: ReproduçãoGianni Infantino assumiu a Fifa em fevereiro de 2016 e não teve uma única Copa do Mundo de tranquilidade. Em 2018, na Rússia, a péssima fama ainda não era a atual, por causa da guerra contra a Ucrânia, mas já se tratava da fechada e nada democrática nação de Vladimir Putin. Em 2022, no Catar, violações aos direitos humanos foram um inferno para as relações públicas. Era de se esperar que em 2026, na América do Norte, a vida do cartola fosse ser mais fácil.
A 500 dias para o início da próxima Copa, pode-se dizer que tamanha facilidade não haverá. Donald Trump tomou posse da presidência dos Estados Unidos e, já em seu início, anunciou um pacotão: deportação em massa de imigrantes ilegais, suspensão de vistos e aumento de tarifas em relação à Colômbia, reforço do patrulhamento na fronteira com o México. Trump também soltou que gostaria de ver o Canadá anexado como o 51º estado americano.
Todas essas questões são problemáticas para o futebol, em particular para a Fifa, porque a Copa do Mundo depende desse relacionamento entre países. Os Estados Unidos deverão receber centenas de milhares de turistas, não só europeus, mas brasileiros, colombianos, árabes. O país divide o evento justamente com México e Canadá. Como concatenar a organização entre governos, em meio a ameaças de deportações, sanções e anexações?
Infantino obviamente não está sendo surpreendido por nenhuma das posturas de Trump, dado que a maioria delas foi repetida durante a campanha eleitoral ou vem desde seu primeiro governo, mas tampouco tem demonstrado preocupação. Pelo contrário, o cartola suíço tem feito de tudo para mostrar ao mundo que é amigo do presidente americano. Gente próxima, tão próxima, que foi convidado para sua posse e foi citado em seu discurso. E ele se gaba disso.
Entrar para o círculo de confiança do americano exigiu esforços de Infantino. Em Davos, na Suíça, num jantar com autoridades, o número 1 da Fifa descreveu o presidente como um homem de fibra, um competidor, que quer ser o melhor em tudo o que faz, um desportista. Isso em 21 de janeiro de 2020, quando Trump era acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso. Fora outros encontros, que Infantino gosta de divulgar nas redes sociais.
Por que Infantino quer tanto ser visto como amigo de Trump? É verdade que o político foi importante na conquista da sede da Copa. À época da votação, enquanto ocupava a presidência, ele escreveu cartas aos cartolas das federações nacionais. Ele se envolveu no processo. Não é pouco. Ao mesmo tempo, a Fifa é o tipo de entidade que costuma se isentar de preferências político-partidárias. E Trump é potencialmente danoso para as relações públicas.
Pergunto sem ter a resposta certeira, pois essa só Infantino poderia dar, mas há hipóteses. Primeiro: o presidente da Fifa precisa dessa proximidade para desenrolar a Copa de 2026, logística e comercialmente. Segundo: ele não considera que Trump ofereça risco à imagem da Fifa. Estar ligado ao poder é mais importante do que se magoar metade do público, talvez menos, o lado progressista que se ofende com as bravatas e as atitudes do trumpismo.
Faz tempo que o cartola investe no relacionamento com o político, faz tempo que a Fifa quer alastrar o futebol pelos Estados Unidos – para além da categoria feminina e da prática escolar. A 500 dias para o início da próxima Copa, de uma coisa eu tenho certeza: por acaso não é.
(As informações são do jornal O Globo)