Terça-feira, 17 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 11 de julho de 2022
Quanto tempo leva para se construir uma base de produção de chips de ponta e globalmente competitiva? Para os Estados Unidos, que vêm tentando reverter sua longa queda na produção mundial de chips, a resposta desencorajadora é: muito mais tempo do que se pode imaginar. E mesmo que as tentativas recentes de criar um punhado de fábricas de chips de nível internacional em solo americano acabem dando frutos, isso não resolverá questões mais amplas sobre a continuidade da liderança do país em outras partes da indústria de semicondutores.
A mais recente nuvem sobre a fabricação de microprocessadores nos EUA vem do atraso intencional em Washington de uma legislação que forneceria até US$ 52 bilhões em subsídios para apoiar novas fábricas de chips e pesquisa e desenvolvimento.
Na semana passada, o presidente-executivo da Intel, Pat Gelsinger, demonstrou sua frustração com o atraso. Ele alertou que se o Congresso não agir antes do recesso de meio de ano, a Intel poderá ter que atrasar a construção de uma fábrica de chips avançados de US$ 20 bilhões em Ohio.
Por outro lado, a Intel já recebeu promessas de € 6,9 bilhões em apoio a um projeto parecido recentemente anunciado para a Alemanha, embora a União Europeia tenha chegado à ideia de subsidiar a fabricação de chips depois dos EUA. Não admira que Gelsinger tenha insinuado que o foco da Intel, em seus esforços de fabricação mais avançados, poderá começar a mudar para a Europa.
A gigante taiwanesa dos chips TSMC e a sul-coreana Samsung – ambas um passo à frente da Intel na fabricação de chips avançados – estão entre os que fazem fila para receber recursos dos EUA. O Congresso já aprovou os subsídios, mas a legislação subsequente para realmente financiar o plano parou. Com o recesso de verão e as eleições de meio de mandato se aproximando, as chances de algo acontecer antes do fim deste ano podem estar diminuindo.
Mas, mesmo que o impasse político seja resolvido em breve, desafios maiores se aproximam. Morris Chang, o fundador da TSMC e principal nome da indústria de semicondutores de Taiwan, que é líder mundial, diz que US$ 52 bilhões simplesmente “não são suficientes”. Em uma entrevista recente com a Brookings Institution e o Center for Strategic and International Studies, Chang classificou os subsídios de “um exercício muito caro de futilidade”.
O ponto principal de Chang é que a destreza manufatureira dos EUA foi corroída nos últimos 40 anos, tornando improvável que o país consiga se igualar aos concorrentes asiáticos. Essa foi uma das “surpresas horríveis” que a TSMC teve quando estabeleceu sua primeira fábrica nos EUA um quarto de século atrás, disse o fundador da companhia. Mesmo agora, após muitos anos de melhorias, os chips de sua fábrica nos EUA custam 50% mais que os produzidos em Taiwan.
Até recentemente, esses não eram problemas que suscitassem muita preocupação em Washington ou no Vale do Silício. Durante anos, as companhias de chips americanas ficaram satisfeitas em concentrar seus esforços nas partes da complexa indústria global que exigem os menores investimentos de capital e prometem as maiores margens de lucro. O resultado foi uma forte posição global em áreas como design de chips (por meio de empresas como Nvidia e Qualcomm), equipamentos para a produção de chips (Applied Materials e Lam Research) e os softwares complexos necessários para se projetar chips (Cadence e Synopsys).
Duas coisas tornaram essa estratégia menos sustentável. A primeira foi a ameaça à segurança nacional e econômica representada pela concentração da fabricação de chips na Ásia. Essa dependência ficou clara na crise das cadeias de suprimentos do pós-pandemia. Se os planos da China para Taiwan se transformassem em um conflito militar, a atual crise de abastecimento seria insignificante em comparação.
A outra diferença agora é que, embora a especialização nas partes de maior valor de uma cadeia de suprimentos de chips globalmente interdependente tenha servido bem aos EUA, ela poderá deixar o país exposto estrategicamente à medida que a China passa a assumir um papel maior.
A falta de fabricação de chips de ponta na China a deixou bem atrás de Taiwan. Mas há muito ela desempenha um papel importante em outras áreas do setor, como o fornecimento de materiais vitais para a produção de chips.
A China agora está realizando grandes investimentos na capacidade de fabricação, que em breve farão dela um dos maiores produtores de chips do mundo, mesmo ficando ela a anos de distância de alcançar a TSMC na fabricação de chips avançados. E suas empresas de design de chips já mostraram que podem se igualar a algumas das melhores dos EUA.
Como resultado, para os EUA uma presença nacional mais forte em toda a cadeia de fornecimento começa a parecer uma prioridade. Isso exigirá investimentos maiores em habilidades técnicas e pesquisa e desenvolvimento – e poderá fazer com que os US$ 52 bilhões pareçam pouco mais do que um adiantamento. As informações são do jornal Financial Times.