Quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de setembro de 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nessa segunda-feira (22) que a FDA (Food and Drug Administration, a Anvisa dos EUA) pedirá aos médicos que aconselhem mulheres grávidas a não usarem paracetamol, princípio ativo do Tylenol, devido a um suposto risco aumentado de autismo para os bebês.
“Tomar Tylenol não é bom. Eu digo: não é bom. Por esse motivo, eles recomendam fortemente que as mulheres limitem o uso de Tylenol durante a gravidez, a menos que seja clinicamente necessário”, disse Trump durante evento na Casa Branca, ao lado de Robert F. Kennedy Jr., secretário do Departamento de Saúde dos EUA, equivalente ao ministro da Saúde no país.
Kennedy afirmou que a FDA iniciará o processo de alteração dos rótulos de segurança do medicamento.
O Tylenol é fabricado pela empresa de saúde do consumidor Kenvue, que foi desmembrada da Johnson & Johnson em 2023, e versões genéricas de paracetamol também estão disponíveis. A empresa afirmou nessa segunda-feira que discorda da sugestão da ligação do medicamento com o transtorno que, segundo ela, não tem base científica.
Na sexta-feira (19), o presidente americano, Donald Trump, havia dito que tinha um anúncio “incrível” para fazer sobre autismo, dizendo a repórteres: “O autismo está totalmente fora de controle… Acho que talvez tenhamos um motivo para isso.”
Alguns estudos mostraram que existe uma pequena ligação entre mulheres grávidas que tomam paracetamol —que nos EUA é vendido com o nome Tylenol— e o autismo, mas essas pesquisas não são consistentes e não provam que o medicamento causa autismo.
O que é Tylenol ou paracetamol? Tylenol é um analgésico de venda livre cujo ingrediente ativo é conhecido como acetaminofeno nos EUA.
No Brasil e em diversos outros países, a substância é conhecida como paracetamol.
Vendido sob diversas marcas e com versões especiais para bebês e crianças pequenas, tornou-se um produto básico em todo o mundo para tratar dor e febre.
Grandes grupos de medicina e governos em todo o mundo afirmam que o paracetamol é seguro para uso por gestantes.
O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (a associação profissional desses profissionais nos EUA) afirmou que médicos de todo o país têm consistentemente identificado o paracetamol como um dos únicos analgésicos seguros para gestantes.
“Estudos realizados no passado não mostram evidências claras que comprovem uma relação direta entre o uso prudente de paracetamol durante qualquer trimestre e problemas de desenvolvimento de fetos”, afirmou o grupo.
No Reino Unido, as diretrizes do Serviço Nacional de Saúde afirmam que o paracetamol é a “primeira escolha” de analgésico para tratar gestantes. “É comumente tomado durante a gravidez e não faz mal ao bebê”, afirmam as diretrizes britânicas.
A fabricante do Tylenol, Kenvue, defendeu o uso do medicamento em gestantes, afirmando que é a opção analgésica mais segura para o grupo.
“Acreditamos que dados científicos independentes e sólidos demonstram claramente que tomar paracetamol não causa autismo. Discordamos veementemente de qualquer sugestão em contrário e estamos profundamente preocupados com o risco à saúde que isso representa para as gestantes”, afirmou a fabricante em comunicado à BBC.
Tanto a empresa quanto os médicos americanos aconselham as gestantes a consultar profissionais de saúde antes de tomar qualquer medicamento sem receita.
A mídia americana relata que o governo Trump aconselhará mulheres grávidas a tomarem o analgésico apenas em caso de febre alta.
Febres altas não tratadas podem causar danos tanto às mães quanto aos bebês em desenvolvimento.
Em abril, o secretário do Departamento de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., prometeu “um esforço massivo de testes e pesquisas” para determinar a causa do autismo em cinco meses.
Mas especialistas alertaram que encontrar as causas do autismo —uma síndrome complexa que vem sendo pesquisada há décadas— não seria simples.
A visão amplamente difundida entre os pesquisadores é que não existe uma causa única para o autismo, que se acredita ser resultado de uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais.
Em agosto, uma revisão de pesquisa liderada pelo reitor da Chan School of Public Health da Universidade de Harvard descobriu que crianças podem ter maior probabilidade de desenvolver autismo e outros distúrbios do neurodesenvolvimento quando expostas ao paracetamol durante a gravidez.
Os pesquisadores argumentaram que algumas medidas deveriam ser tomadas para limitar o uso do medicamento, mas disseram que o analgésico ainda é importante para tratar a febre e a dor em mulheres.
Mas outro estudo, publicado em 2024, não encontrou relação entre a exposição ao paracetamol e o autismo.
“Não há evidências robustas ou estudos convincentes que sugiram que haja qualquer relação causal”, disse Monique Botha, professora de psicologia social e de desenvolvimento na Universidade de Durham.
Os diagnósticos de autismo aumentaram fortemente desde 2000. Em 2020, a taxa entre crianças de 8 anos atingiu 2,77%, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
Cientistas atribuem pelo menos parte do aumento à maior conscientização sobre o autismo e à expansão da definição do transtorno. Pesquisadores também têm investigado fatores ambientais.
No passado, Kennedy Jr. difundiu falsas teorias sobre o aumento das taxas de autismo, culpando as vacinas, apesar da falta de evidências. As informações são da BBC News.