Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 26 de julho de 2022
A aceleração da alta dos juros pelos bancos centrais dos países desenvolvidos está intensificando a saída de capital do mercado financeiro dos emergentes, incluindo o Brasil.
Julho caminha para ser o quinto mês consecutivo de fuga de recursos da região, nas bolsas e na renda fixa, o que se confirmado deve ser o maior número de meses consecutivos de retiradas de dinheiro já registrado por estes mercados, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que reúne os 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington (EUA).
No Brasil, a greve dos funcionários do Banco Central (BC) atrasou a divulgação dos dados semanais do fluxo cambial, um dos melhores termômetros do apetite do investidor estrangeiro para ativos brasileiros. Os números de 2022 mostram que até fevereiro o País recebia uma enxurrada de recursos externos, considerando o canal financeiro, que mostra a movimentação em renda fixa e ações.
Em março, este movimento mudou, e houve saídas líquidas de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro, coincidindo com a invasão da Ucrânia pela Rússia e o início da elevação dos juros nos Estados Unidos. Em abril, nova retirada de US$ 3,7 bilhões. O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse que a forte saída de recursos em renda fixa em março deve estar relacionada ao ciclo de alta de juros nos Estados Unidos.
Na B3, o fluxo de estrangeiros está negativo este mês em R$ 822 milhões até o dia 21. Em junho houve um respiro, com fluxo positivo de R$ 427 milhões, que ocorreu após a enorme retirada de R$ 14 bilhões em abril e maio.
“O mundo está passando por um dos maiores choques de taxas de juros da memória recente”, ressalta um relatório recente do IIF. Nas primeiras duas semanas de julho, a estimativa é que mais US$ 5,6 bilhões tenham deixado os emergentes. Desde março, estes países estão perdendo bilhões de dólares por mês, tanto na renda fixa como nas bolsas, revertendo o movimento de fevereiro, quando haviam recebido US$ 17,6 bilhões.
De acordo com o economista-chefe do Bank of America para os Estados Unidos, Michael Gapen, dois fatores advogam contra os países emergentes, incluindo o Brasil, neste momento: o dólar mais forte e os temores de uma desaceleração no ritmo de crescimento global, com temores de recessão nos EUA e mais fortes ainda na Europa.
“O dólar forte em um ambiente de risco e em que o Fed está elevando sua taxa básica de juros tende a prejudicar os mercados emergentes, principalmente os países que tomaram empréstimos em dólares”, explica o especialista. “Tem de se levar em conta o risco de uma recessão global. O crescimento nos EUA está diminuindo, fora, também. Obviamente, os mercados emergentes tendem a depender do crescimento global para as exportações, o Brasil menos do que outros, é claro”, acrescenta o economista do Bank of America.
Com os bancos centrais em pleno processo de aperto monetário para controlar a disparada da inflação, a pressão para a saída de recursos dos países emergentes deve permanecer nos próximos meses, de acordo com especialistas. Nesta semana, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve anunciar outro aumento de juros de 75 pontos-base, mantendo uma postura “hawkish”, ou seja, de subida nas taxas, até o fim deste ano. Além dele, o Banco Central Europeu (BCE) elevou o juro da região pela primeira vez em 11 anos, seguindo outras autoridades como no Canadá e até na Suíça.