Terça-feira, 17 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 17 de junho de 2018
Cerca de 70 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais deixariam o Brasil se tivessem oportunidade, aponta uma pesquisa do instituto Datafolha feita em todo o País no mês passado. O levantamento revela que 43% da população adulta manifestou desejo de sair do Brasil. Entre os que têm de 16 a 24 anos, a porcentagem salta para 62%. São 19 milhões de jovens que gostariam de deixar o Brasil, o equivalente a toda a população de Minas Gerais.
O êxodo não fica apenas na intenção. O número de vistos para imigrantes brasileiros nos EUA, país preferido dos que querem se mudar, chegou a 3,36 mil em 2017, o dobro de 2008, início da crise global. Os pedidos de cidadania portuguesa aceleraram. Só no consulado de São Paulo, houve 50 mil concessões desde 2016. No mesmo período, dobrou o número de vistos para estudantes, empreendedores e aposentados que pretendem fixar residência em Portugal.
“Há fatores de sucesso e de fracasso que explicam isso”, avalia o professor de economia da Universidade Ramon Llull, em Barcelona, Flavio Comin. Um deles é que hoje é mais fácil se mudar: “Na internet dá para ver a rua onde se pretende morar, a sala do apartamento que se quer alugar”. Há também grande frustração. “O Brasil de 2010 promoveu as expectativas de que o País seria diferente. O tombo foi maior quando se descobriu que não estávamos tão bem quanto se dizia”, afirma. Segundo Comin, nos últimos anos seus alunos começaram a pedir cartas de referência para trabalho, “com o claro propósito de mudar permanentemente para o exterior”.
Não só os jovens querem ir embora. Há maioria também entre os que têm ensino superior (56%) e na classe A/B (51%). É o caso da produtora Cássia Andrade, 45 anos, que vendeu o seu apartamento em São Paulo e embarca para o Canadá até agosto. “Não quero virar Uber nem vender brigadeiros. Trabalho com arte há 30 anos e estou em plena fase produtiva. Não faz sentido ficar só porque sou brasileira e não desisto nunca”, justifica. Cássia só não fechou a sua empresa porque pretende continuar trabalhando com projetos brasileiros.
Essa possibilidade de continuar atuando no Brasil mesmo de fora é um dos fenômenos que atenuam a chamada “fuga de cérebros”, afirma o pesquisador do Cepesp FGV Marcos Fernandes. Na área acadêmica, os brasileiros passam a trabalhar na fronteira do conhecimento e exportam esse conhecimento para o Brasil por meio de parcerias e projetos individuais.
Já no caso de profissionais de nível técnico ou empreendedores, o intercâmbio é mais difícil. Mas, segundo Fernandes, há evidência empírica de que a saída de talentos é um movimento de curto prazo. “A não ser em casos de guerra civil ou falência do Estado, boa parte deles acaba voltando.” No médio prazo, portanto, o Brasil pode ganhar profissionais mais bem formados e experientes.