Terça-feira, 10 de setembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de agosto de 2024
Esperado pelo mercado financeiro como o próximo presidente do Banco Central (BC), o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, é hoje o principal coordenador das expectativas de inflação, e a indicação dele para o cargo, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já é dada como certa pelo Senado.
“Não vai ter surpresa de última hora em relação ao nome dele. Acho que é o Gabriel mesmo”, disse à reportagem o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO).
Ele já conta com a antecipação da indicação e afirma que pautará logo a sabatina e a votação. “Não vou ficar segurando”, informou Cardoso.
A CAE é a unidade do Senado responsável por fazer a sabatina e votar a indicação do presidente Lula. Em seguida, o plenário da Casa faz nova votação para confirmar a indicação. Entre alguns senadores da CAE, ouvidos pela reportagem, há preferência para que a indicação ocorra em setembro, após a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 17 e 18, em vez do anúncio em agosto, como boa parte do mercado financeiro já trabalha.
Na última quinta-feira (8), no mesmo dia em que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez palestra em evento de comemoração dos cinco anos do cadastro positivo, uma fala de Galípolo, no 15º Congresso Brasileiro das Cooperativas de Crédito, em Belo Horizonte (MG), impulsionou a alta da Bolsa e a queda do dólar e dos juros futuros. Em tom considerado duro pelo mercado, Galípolo disse que subirá os juros, se for necessário para perseguir a meta de inflação.
Foi até agora a declaração mais importante do diretor para afastar dúvidas de que seria leniente no combate à inflação no comando do BC sob influência de Lula. Um dos pontos técnicos que mais chamaram a atenção dos analistas e considerado decisivo para o movimento de melhora do mercado foi a declaração de Galípolo de que faz parte do grupo de diretores do BC que vê como assimétrico o balanço de risco para a inflação à frente. Ou seja, mais riscos apontando para uma elevação dos preços.
“Ele é assimétrico não só porque temos mais itens de risco para alta da inflação, três [fatores de alta], ante dois de risco de baixa”, enfatizou o diretor, no evento das cooperativas em Minas Gerais.
Até Galípolo falar da assimetria, havia dúvidas se o diretor indicado por Lula considerava o cenário de riscos como assimétrico. A assimetria é vista como o gatilho que o BC colocou na ata da mais recente reunião do Copom para a alta da taxa Selic (taxa básica de juros).
A dúvida surgiu porque trecho da ata diz que vários membros enfatizaram a assimetria do balanço de riscos, sem fazer referência a uma unanimidade entre os diretores, o que indicaria que nem todos teriam o mesmo entendimento. O presidente da CAE não vê problemas para a aprovação de Galípolo pelo Senado.
“Ele foi sabatinado e já teve a maioria dos senadores e senadoras na indicação dele para a diretoria. O pessoal gosta muito dele lá, porque é um cara que atende todo o mundo bem e não desentoou”, ressaltou Cardoso, que à frente da CAE lidera uma pauta mais independente e integra o grupo conservador do Senado em temas ideológicos.