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Por Redação O Sul | 24 de fevereiro de 2022
As tensões entre a Rússia e a Ucrânia alcançaram níveis sem precedentes, culminando em uma ampla invasão do território ucraniano pelas forças militares russas na madrugada desta quinta-feira (24).
Os temores de uma guerra entre esses dois países vinham sendo alimentados pela forte presença de soldados russos posicionados ao longo da fronteira ucraniana e por uma série de demandas apresentadas por Moscou em meados de dezembro.
Entre elas, o compromisso de que a Ucrânia nunca se junte à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), limitações às tropas e armas que podem ser implantadas nos países que aderiram a essa aliança após a queda da União Soviética (URSS) e a retirada da infraestrutura militar instalada nos estados do Leste Europeu após 1997.
“Eles realmente querem retornar às fronteiras existentes na Europa Oriental durante a Guerra Fria”, afirmou no fim de janeiro George Friedman, fundador da empresa internacional de previsão e análise Geopolitical Futures, resumindo as demandas de Moscou.
Por outro lado, o governo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, argumenta que essa crise começou com a invasão russa da península da Crimeia e a ocupação por grupos pró-russos na região de Donbass, no leste da Ucrânia, onde desde 2014 quase 14 mil pessoas morreram.
Essas ações levaram a sanções contra Moscou e sua crescente alienação do Ocidente. Mas por que a Rússia dá tanta importância à Ucrânia?
A BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, explica três fatores para isso.
– 1. Zona de segurança: “A Rússia está seguindo essas políticas no momento porque percebe que um país que está perto de sua fronteira está se tornando uma plataforma para uma aliança militar ameaçadora. Portanto, tem a ver com a possibilidade de a Ucrânia se tornar membro da Otan e assim passar a armazenar mísseis e tropas dessa aliança”, afirmou no fim de janeiro Gerald Toal, professor de Relações Internacionais da Universidade Virginia Tech, nos EUA, à BBC News Mundo.
George Friedman, da Geopolitical Futures, lembra que o território da Ucrânia serviu como “zona tampão” para Moscou desde a época da invasão napoleônica de 1812.
“A Ucrânia é a fronteira ocidental da Rússia. Quando os russos foram atacados pelo oeste durante a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, foi o território da Ucrânia que os salvou. Inimigos tinham que percorrer mais de 1,6 mil quilômetros para chegar a Moscou. Se a Ucrânia cair nas mãos da OTAN, Moscou estaria a apenas 640 quilômetros deles. Foi a Ucrânia que salvou os russos de Napoleão. Portanto, se trata de uma zona de segurança que eles querem manter”, ressalta.
– 2. Ligações históricas, religiosas e culturais: Em 12 de julho de 2021, em um longo artigo sobre as relações com a Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, denunciou que a nação vizinha estava caindo em um jogo perigoso destinado a transformá-la em uma barreira entre a Europa e a Rússia, em um trampolim contra Moscou.
Putin não se referia apenas à dimensão de segurança e geopolítica, mas sobretudo aos laços históricos, culturais e religiosos entre a Rússia e a Ucrânia, e sobre os quais escreveu extensivamente.
O presidente russo relembrou, entre outras coisas, o antigo povo rus, considerado o ancestral comum de russos, bielorrussos e ucranianos, e destacou os muitos marcos da história comum para defender sua visão de que russos e ucranianos são “um só povo”.
Toal, da Universidade Virginia Tech, destaca que vários elementos que misturam história, cultura e identidade estão envolvidos nessa ideia.
“A Rússia não vê a Ucrânia como apenas mais um país. A visão dominante do nacionalismo russo é que a Ucrânia é uma nação eslava irmã e, além disso, o coração da nação russa. Essa é uma ideologia muito poderosa, que faz da Ucrânia um elemento central da identidade russa”, diz ele.
“Portanto, há sentimentos muito fortes quando a Ucrânia como nação se define em oposição à Rússia. Isso causa muita raiva e frustração na Rússia, que se sente traída por um irmão. E isso tem a ver com a incapacidade da visão dominante entre os russos de reconhecer a identidade nacional ucraniana como algo separado da Rússia”, acrescenta.
– 3. O legado de Putin: Em entrevista à BBC News Mundo em dezembro passado, Kadri Liik, analista-chefe do Conselho Europeu de Relações Exteriores especializado na Rússia, disse que, em sua opinião, a questão da Ucrânia é aquela em que as próprias emoções de Putin entram em jogo, então, às vezes, suas posições podem não parecer muito racionais.
Gerard Toal aponta haver um argumento segundo o qual Putin foi pessoalmente humilhado pelo que aconteceu com a Ucrânia durante seu mandato, quando seus esforços recorrentes para instalar líderes pró-russos em Kiev não renderam os frutos esperados.
“O argumento geral é que ele está lutando com esse problema há algum tempo, sente que é um negócio inacabado que faz parte de seu legado e precisa ser corrigido de uma vez por todas”, destaca.
“Putin acredita que o Ocidente transformou a Ucrânia em uma plataforma antirrussa e que isso é algo que ele precisa resolver”, acrescenta. As informações são da BBC News.