Sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de novembro de 2025
Quando Donald Trump receber os líderes do Grupo dos 20 – grupo que reúne as maiores economias do planeta- em seu resort particular de golfe em Miami, no próximo ano, será ele quem decidirá quem está na lista de convidados.
Isso ficou claro depois que o presidente dos EUA afirmou em uma postagem nas redes sociais, na quarta-feira, que não convidará a África do Sul, que ocupa a presidência do G-20 neste ano e tem sido alvo da ira do presidente americano há algum tempo.
Pode até ser uma violação do protocolo estabelecido há muito tempo que um líder decida quais membros do bloco podem participar da cúpula – sem falar em sediar o evento em seu próprio hotel –, mas Trump já demonstrou que dá pouca importância tanto à tradição quanto à ordem multilateral.
Agora, começam a surgir perguntas sobre quem vai e quem não vai, especialmente sobre qual nação poderia preencher os números. A medida coloca outros membros do G-20 em uma situação difícil: ignorar o insulto e viajar mesmo assim, ou mostrar solidariedade e correr o risco de enfrentar toda a força do revide de Trump, seja em tarifas comerciais, embargos tecnológicos ou algo ainda pior.
“Este é um dos fóruns multilaterais mais importantes que ainda temos no mundo” e um formato que “não devemos diminuir desnecessariamente”, disse o chanceler alemão Friedrich Merz em Berlim nessa quinta-feira (27), quando questionado sobre os comentários de Trump.
Ao boicotar a cúpula do último fim de semana em Joanesburgo, “o governo americano abriu mão de influência de forma desnecessária, inclusive em uma parte do mundo que está se tornando cada vez mais importante”, afirmou Merz.
A África do Sul já esperava ser barrada da cúpula no Trump National Doral Golf Club, e autoridades continuam preocupadas com a possibilidade de os EUA tentarem expulsar o país totalmente do grupo. Ainda assim, qualquer mudança na composição exigiria consenso entre as nações do G-20, como ocorreu antes da cúpula de 2023 na Índia, quando a União Africana foi admitida como membro pleno.
África do Sul
A explosão do líder estadunidense coroa um conflito com o presidente Cyril Ramaphosa, provocado pelas repetidas alegações de Trump — sem provas — de que a África do Sul estaria cometendo genocídio contra afrikaners brancos. Ramaphosa tentou convencer Trump a parar de promover essa teoria conspiratória durante uma visita à Casa Branca em maio, mas foi surpreendido com uma montagem de vídeo amplificando as acusações.
O tratamento dado à maior economia industrializada da África, o primeiro país africano a sediar o G-20, destaca a tendência do presidente de usar o peso global dos EUA para fins políticos domésticos.
A África do Sul “não aprecia insultos de outro país sobre seu valor em participar de plataformas globais”, disse um comunicado do gabinete de Ramaphosa, que classificou os comentários de Trump como “lamentáveis”.
Volta do G-8
Recentemente, os EUA chegaram a cogitar convidar a Rússia de volta para reconfigurar o antigo Grupo dos Oito como parte de um plano de 28 pontos para acabar com a guerra na Ucrânia, pegando Kiev e seus aliados de surpresa. O G-8 passou a ser G-7 em 2014, quando a Rússia foi expulsa devido à anexação ilegal da Crimeia.
Outros que poderiam se beneficiar da boa vontade de Trump incluem a Polônia, que há muito tempo reivindica ser admitida no G-20. “A Polônia tem sido ótima, e o homem que venceu a eleição é fantástico”, disse Trump ao canal conservador GB News sobre Karol Nawrocki.
Quem quer que receba o sinal verde para a cúpula de Trump em Miami, sua demonstração de desdém por parceiros próximos provavelmente prenuncia o que será uma “postura combativa e não cooperativa” durante a presidência dos EUA, disse Ziyanda Stuurman, analista de risco geopolítico sediada na Cidade do Cabo e consultora da Africa Practice.
Para alguns, a América de Trump parece uma visão de pesadelo de “um ex-parceiro coercitivo do qual não podemos viver sem”, disse Bill Emmott, autor de “The Fate of the West”. “Mas nosso pesadelo ainda maior seria se ele passasse a favorecer um mundo G-2, no qual, longe de se enfrentarem, os EUA e a China decidissem dividir o mundo entre si”. Com informações de O Globo.