Quinta-feira, 19 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 18 de junho de 2025
O que estão compartilhando: que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria dito em um discurso que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é um “escândalo ambulante”.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O vídeo foi manipulado com o uso de inteligência artificial. As imagens foram retiradas de um discurso de Trump durante uma sessão conjunta na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos em 4 de março deste ano. Já o áudio foi criado digitalmente. Lula não é citado por Trump em nenhum momento do discurso, embora ele mencione o Brasil uma vez, ao defender sua política tarifária e dizer que países como Brasil, Índia, China, México e Canadá, além da União Europeia, cobram tarifas maiores dos EUA do que o contrário.
Saiba mais: O vídeo investigado circula em diversas plataformas e usa uma tática parecida com a aplicada em outro vídeo já desmentido pelo Verifica: sobre uma imagem real de um discurso de Donald Trump, insere um áudio fabricado com uso de IA com supostas críticas dele ao presidente Lula.
Discurso original foi feito no Congresso americano, em 4 de março
O vídeo original usado para gerar o conteúdo falso foi retirado de um discurso de Trump na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos em 4 de março deste ano. Uma busca reversa de imagens com um dos frames do vídeo levou a uma publicação no Facebook do canal de notícias VOA Português com um resumo do discurso de Trump na sessão conjunta. O post foi feito em 5 de março deste ano.
O Verifica, então, buscou por transmissões da Casa Branca de discursos do presidente em março de 2025, e encontrou este vídeo no YouTube, transmitido ao vivo no dia 4. Elementos do vídeo correspondem à mesma imagem do conteúdo investigado: Trump usa a mesma gravata, fala em um púlpito onde há um mesmo ficheiro preto. Ao fundo, é possível ver, à esquerda, o vice-presidente, J. D. Vince, e, à direita, o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson.
Este outro vídeo, com a câmera posicionada em outro ângulo, mostra que Vance e Johnson se sentam em cadeiras iguais às do vídeo checado, e há copos de água sobre a mesa que ocupam, ao fundo.
O Verifica submeteu o vídeo e o áudio do conteúdo a duas ferramentas de detecção de inteligência artificial e ambas apontaram que o áudio foi gerado artificialmente. Segundo a ferramenta Hive Moderation, há indícios de que 98,2% do vídeo foi feito com IA. Já a ferramenta Hiya, do InVid, aponta 96% de probabilidade de que o material tenha sido feito com inteligência artificial.
Trump citou o Brasil, mas não falou de Lula
A fala do presidente estadunidense na sessão conjunto durou cerca de duas horas. Ele enalteceu a si próprio, criticou o governo de Joe Biden e os democratas no próprio Congresso. Trump também criticou a Organização das Nações Unidos (ONU), à qual chamou de corrupta, reafirmou a saída do Acordo de Paris e disse estar fazendo uma “revolução do bom senso” no país.
Ao falar sobre a política tarifária, o presidente mencionou o Brasil uma vez, mas não citou Lula em nenhum momento do discurso. O Brasil aparece entre países que, segundo Trump, aplicam tarifas maiores aos Estados Unidos do que os Estados Unidos aplicam de volta. O trecho pode ser visto (em inglês) a partir de 57:06:
“Outros países têm usado tarifas contra nós há décadas, e agora é a nossa vez de começar a usá-las contra esses outros países. Em média, a União Europeia, a China, o Brasil, a Índia, o México e o Canadá. Você já ouviu falar deles? E inúmeras outras nações nos cobram tarifas tremendamente mais altas do que as que cobramos deles. É muito injusto. A Índia nos cobra tarifas de automóveis superiores a 100%. A tarifa média da China sobre nossos produtos é o dobro da que cobramos deles. E a tarifa média da Coreia do Sul é quatro vezes maior. Pense nisso, quatro vezes mais. E nós ajudamos tanto militarmente e de muitas outras formas a Coreia do Sul”, disse. As informações são do portal Estadão.